sexta-feira, 27 de abril de 2012

O avanço da Frente Nacional, entre a tradição francesa e a mutação europeia

O avanço da Frente Nacional no primeiro turno da eleição presidencial francesa acompanha uma longa tradição da extrema-direita na França e a mutação contemporânea dos movimentos populistas na Europa, afirmou o historiador Pierre-André Taguieff em entrevista à AFP.
Os movimentos de extrema-direita não são novos na história da França, basta citar o caso Dreyfus, que inspirou o célebre artigo de Emile Zola "Eu acuso", no final dp século XIX, ou o governo colaboracionista de Vichy durante a Segunda Guerra Mundial, mas quais são os pontos comuns entre eles e a atual ascensão da ultradireita?
"Desde o final do século XIX, esses partidos nacionalistas combinam de diversas maneiras a dimensão contestatória e a dimensão identitária. A primeira se baseia em um antiparlamentarismo virulento; a segunda, em um nacionalismo xenófobo de base etno-racial ("estrangeiros fora", "morte aos judeus)", ressaltou Taguieff, historiador especialista em racismo e o antisemitismo.
"Na França, predominam os ''anti'', o voto ''contra''. Este é um terreno favorável cultural e antropológico, onde prospera a extrema-direita", acrescentou.
"Outro elemento é que na França, desde 1945, há uma rejeição ao nacionalismo que o relega à margem do consenso republicano, mas há regularmente retornos do relegado", ressaltou.
Para ele, há um "paradoxo" no país, que "aceita a assimilação permitindo ao estrangeiro se dissolver a ponto de ser invisível, mas que pode ser sumamente xenófobo quando existe a menor suspeita de que o estrangeiro queira permanecer alheio à cultura e à identidade francesas".
O avanço de Marine Le Pen, líder da Frente Nacional, não ocorre ao acaso?
"O atual avanço não é um acidente, mas tem dimensões inéditas. O novo FN se inscreve na tradição da extrema-direita francesa, mas levando em consideração transformações da extrema-direita na Europa a partir dos anos 90", respondeu Taguieff.
Ele acrescentou que essas mutações são "o abandono progressivo de referências ao fascismo e ao nazismo para ter como foco a questão da imigração e da cultura muçulmana dos imigrantes, e o abandono do antissemitismo na maioria dos partidos".
"Este é um componente que foi sendo desenvolvido depois do 11 de Setembro de 2001, quando o ''perigo islâmico'' substituiu o ''perigo judeu''", considerou o historiador.
Na Europa, "as novas formas de populismo são caracterizadas por sua orientação antipolítica. Em seus discursos públicos, já não se opõem à democracia liberal pluralista, mas pretendem defender valores: liberdade de opinião, laicismo, igualdade homens-mulheres, etc. Ou seja, a rejeição da islamização está inscrita em um registro de valores e de normas".
Esses movimentos "têm todos os principais traços do nacional-populismo lepenista: apelo ao povo contra as elites, apelo à mudança que implica uma ruptura purificadora" o apelo para "limpar o país de elementos que, supostamente, não podem ser assimilados".
Por que os eleitores franceses já não têm vergonha, como antes, de dizer que votam neste partido?
"O novo FN absorveu um certo número de movimentos claramente neofascistas e os transformou em um grande movimento nacionalista conservador", afirmou.
"Marine Le Pen se redefiniu, pretendendo romper com o antissemitismo", já que "a nova ameaça é representada pelo Islã".
Com isso, "abandonou o anticomunismo, agora antiquado", e adotou novos temas, como a "antiglobalização, a crítica à construção europeia e o medo da islamização", analisa o historiador.
"Esses novos tipos de rejeição são amplamente compartilhados pela população. Marine Le Pen assumiu as questões ideológicas predominantes. A culpa se evaporou porque seu discurso deixou de lembrar o discurso neofascista das velhas extremas-direitas europeias que prevaleceu entre 1945 e 2000", ressalta Taguieff.
"Antes o FN era perigoso para a democracia, mas não tinha a menor possibilidade de produzir realmente efeitos porque estava totalmente marginalizado. Hoje é perigoso para a sociedade francesa porque há riscos de que penetre no espaço político dos partidos que critica", concluiu o historiador.

Fim do fator previdenciário pode ser votado até junho, diz Maia

O  presidente da Câmara dos Deputados, Marco Maia (PT-RS), prevê a possibilidade de votar ainda neste semestre, portanto antes das eleições municipais em outubro, o projeto que acaba com o chamado fator previdenciário no cálculo do valor das aposentadorias pagas pelo Instituto Nacional do Seguro Social (INSS). A proposta introduz uma nova regra combinando a idade do trabalhador e o tempo de contribuição para definir o valor do benefício. Na noite de quarta-feira, o plenário da Câmara aprovou o regime de urgência para votação do projeto.
Maia argumentou que o regime de urgência é uma forma de estimular o debate da proposta em buscar um acordo. Segundo ele, assim que houver entendimento entre os setores envolvidos - parlamento, governo e centrais sindicais - o projeto pode ser votado no plenário.
O presidente da Câmara informou à ministra de Relações Institucionais, Ideli Salvatti, em encontro na tarde desta quinta-feira (26), sobre a aprovação do regime de urgência para o projeto e ouviu uma sinalização positiva do governo para a discussão. Segundo Maia, a ministra afirmou que interessa ao governo mudar a regra atual para um mecanismo mais justo ao trabalhador.
O fator previdenciário é o mecanismo que leva em conta o tempo de contribuição, a idade do trabalhador e a expectativa de vida no cálculo do valor do benefício. Por essa fórmula, o trabalhador é desestimulado a se aposentar mais cedo, porque há uma redução no valor da aposentadoria. A regra em discussão por um grupo formado na Câmara considera a soma da idade e do tempo de contribuição para a aposentadoria, a chamada regra 85/95. Por essa fórmula, a soma dos dois fatores deve chegar a 85 no caso de mulheres e 95, quando o trabalhador for homem.
"A manutenção plena e simples do fator previdenciário é ruim para o trabalhador. É necessário chegar a um acordo para evoluir a um mecanismo mais justo. Nós temos de buscar uma proposta que equilibre a sustentação do sistema previdenciário e que seja mais justo para o trabalhador", disse Maia.
Ele afirmou que, pessoalmente, é a favor do fim do fator previdenciário, mas que tem consciência de que isso não é possível. Para ele, a regra em discussão é uma alternativa. "A regra 85/95 pode ser uma forma que ajude a diminuir a injustiça com o trabalhador", disse.

quinta-feira, 26 de abril de 2012

Paralisação dos professores deixa alunos da rede estadual sem aula

Estudantes de escolas estaduais de ensino do Paraná ficaram sem aulas nesta quinta-feira (26) por causa do dia de paralisação dos professores. De acordo com a presidente do APP-Sindicato, Marlei Fernandes de Carvalho, as atividades serão retomadas normalmente nesta sexta-feira (27).
Aproximadamente 300 professores estavam concentrados em frente ao Palácio Iguaçu, no Centro Cívico, por volta das 9h15, para um ato pedindo melhorias para a categoria. A manifestação reuniu outros servidores estaduais, além de professores, e terminou às 13h. De acordo com Marlei, o protesto também foi feito em Maringá, Londrina, Cascavel, Apucarana, Toledo e Foz do Iguaçu.
A Secretaria de Estado da Educação (Seed) informou que não tinha balanço de quantos alunos ficaram sem aulas nesta quinta-feira.
Por volta das 9h30, os professores se reuniram com o Secretário da Administração, Luiz Eduardo Sebastiani, para discutir sobre o salário piso, pagamento de atrasados e atendimento de saúde. O grupo irá se reunir novamente no dia 15 de maio para que o governo apresente as propostas para a categoria.
Às 11h, os servidores participaram de uma reunião com a Superintendente da Educação, Meroujy Cavet. Também foi marcado um encontro com o Secretário da Educação, Flávio Arns, para o dia 2 de maio, às 14h.
Reivindicações
“Uma das principais reivindicações é para que o piso nacional seja pago integralmente do Paraná”, afirmou Marlei. Os professores almejam também que um terço do tempo de trabalho possa ser utilizado na preparação e pesquisa para a elaboração das aulas.

Para os demais funcionários das escolas, o pedido é de reajuste salarial de 14,13%. Outro pedido é para que haja melhorias no atendimento de saúde de todos os profissionais.
Outro lado
A Secretaria de Estado da Educação (Seed) divulgou nota oficial por meio do site da instituição afirmando que as negociações com a categoria resultaram “em aumento dado a todos os servidores em maio de 2011, de 6,5%, mais um aumento de 5,91%, totalizando um acréscimo de 12,79% aos vencimentos dos salários dos professores no ano passado. Outro avanço na valorização dos profissionais da educação foi o chamamento e a contratação até o momento, nesta gestão, de 19.573 profissionais concursados. Somente no início deste ano, foram nomeados, 11.563 professores aprovados em concurso público para a rede estadual de ensino”.

Rafales over Syria? França defende ação militar na Síria

A França disse ontem que o Conselho de Segurança da ONU deve avaliar a possibilidade de uma intervenção militar na Síria, caso fracasse um plano de paz da organização para conter a violência no país. "Nós não podemos deixar que o regime nos desafie", disse o ministro das Relações Exteriores, Alain Juppé.

As declarações ocorrem em meio a relatos de que tropas do governo de Bashar al Assad continuam atacando alvos civis e ativistas em diversas cidades, apesar de um cessar-fogo patrocinado pelo enviado da ONU, Kofi Annan.

Juppé defendeu o envio de 300 observadores ao país em até duas semanas. Caso isso não funcione, ele defendeu a aplicação de sanções. Na foto, uma menina com os dizeres "libertem a Síria" nas mãos e "liberdade" no rosto participa de protesto contra o governo na cidade de Indib, no norte do país

Força Aérea da Rússia: estado atual, rearmamento e perspetivas


Em 2012, a Força Aérea da Rússia assinala cem anos de existência: esta data tem início em agosto de 1912, quando a Direção de Desenvolvimento da Aviação foi transferida para uma entidade nova: a Seção de Aviação do Estado-Maior General. Os aviadores russos participaram de todas as guerras e conflitos em que a Rússia esteve envolvida nos séculos XX e XXI, começando na Primeira Guerra Mundial.
A Rússia deu um enorme contributo para o desenvolvimento da aviação no mundo. A criação dos primeiros aviões com vários motores, os voos de longo curso dos anos 1930 permitiram à aviação nacional ocupar posições de vanguarda. Nos anos da Segunda Guerra Mundial, a Força Aérea foi capaz de inverter o curso da guerra no espaço aéreo e vencer um inimigo forte e bem equipado.
Nos anos da Guerra Fria, a Força Aérea e as tropas da Defesa Anti-Aérea da União Soviética deram um enorme contributo para garantir a segurança do país. A aviação estratégica (de longo curso) passou a ser um dos elementos-chave da tríade estratégica, tendo as grandes perdas sofridas pela Força Aérea dos EUA e de seus aliados na Coreia, Vietnã e outros conflitos locais nos anos 1950-1970, demonstrado a capacidade da URSS de desenvolver de forma autônoma e de produzir os mais modernos aviões e sistema de defesa anti-aérea.
Depois do fim da URSS, a Força Aérea e a Defesa Anti-Aérea do país passaram por tempos difíceis. A perda de um grande número de bases e aeródromos, a redução do número de equipamentos modernos, a diminuição significativa do potencial de defesa anti-aérea – tudo isso se refletiu de forma muito séria no potencial das Forças Armadas em seu todo.
Ao mesmo tempo, a Força Aérea e a Defesa Anti-Aérea, ao se fundirem, conservaram o seu potencial de desenvolvimento. Com o reinício do financiamento das encomendas militares do Estado e do desenvolvimento de novos equipamentos e armamentos, passou a haver a possibilidade de rearmamento da s unidades da Força Aérea e da Defesa Anti-Aérea.
Começou a modernização do parque aeronáutico existente. De acordo com o Programa Nacional de Rearmamento para 2011-20, a Força Aérea da Rússia deverá receber cerca de 600 novos aviões e 1.000 novos helicópteros de vários tipos, o que permitirá renovar os equipamentos em 70%. O mesmo acontecer á com a Defesa Anti-Aérea.
As perspetivas de rearmamento destes dois ramos das Forças Armadas serão discutidas a 16 de maio em uma mesa-redonda na Voz da Rússia, na qual tomarão parte os principais peritos russos na área da aviação.

terça-feira, 24 de abril de 2012

O vant (drone) iraniano conseguirá voar?



Os dados do avião já foram quase todos decifrados, tendo os engenheiros tido acesso à memória do VANT e ao programa de computador. Isso mesmo foi afirmado em uma intervenção televisiva pelo general Amir Ali Hajizadeh, que integra o comando militar do país.
Como que para dissipar as dúvidas dos curadores da CIA – antigos donos do aparelho – o general apresentou fatos. Antes do raid para capturar Bin Laden, o drone vigiou a casa do terrorista no Paquistão e, antes disso, estivera em manutenção na Califórnia. Não foi fácil retirar os segredos dos discos rígidos, das tecnologias e dos materiais mas nós conseguimos, explicou o general.
Não fale a pena tentar adivinhar o que continha a memória do VANT, mas a cópia de um aparelho destes está acima das possibilidades de Teerão, considera o diretor do Centro de Investigações Político-sociais, Vladimir Evseev:
“O nível tecnológico do Irã não é suficiente para copiar um aparelho destes. Considero que o Irã não conseguirá construir um análogo, embora possa utilizar alguns componentes, caso o avião esteja em boas condições”.
O iranianos são capazes de construir um VANT desenhado por eles próprios, mas não uma cópia do avião americano, diz Vladimir Evseev.
Como exemplo, ele referiu a China, onde a cópia de equipamentos, nomeadamente, militares, é frequente há muito. A dada altura, a China teve acesso a alguns mísseis de cruzeiro russos ?-55 mas levou muito tempo a conseguir copiá-los. Um análogo dos ?-55 só surgiu depois de eles terem juntado a tecnologia americana: desmontaram até ao último parafuso os mísseis Tomahawk, provenientes do Paquistão.
Serguei Drujilovski, professor de Estudos Orientais no Instituto Estatal de Relações Internacionais de Moscou, concorda que o Irã não será capaz de copiar o drone. O especialista também não acredita que os iranianos o tivessem feito pousar:
“O avião se enganou na rota. Foi uma falha do programa, ninguém o fez pousar. Ele estava sobrevoando o território iraniano. Este não foi o primeiro avião não- tripulado a fazê-lo, nem o segundo. Os EUA fazem um monitoramento das estruturas iranianas, não confiam na AIEA e consideram que o Irã está mesmo desenvolvendo a bomba nuclear”.
A existência de equipamento eletrónico importado só por si não prova que os iranianos tenham acedido ao controlo do avião, diz Vladimir Evseev.
“O que os iranianos podiam de fato ter feito é utilizar os meios de luta radiolectrônica. A Rússia forneceu-lhes estes equipamentos. Agora não há muitas provas que eles tenham realmente feito pousar o avião. Não se pode dizer que eles acederam ao sistema de comando do aparelho e deram ordem de pouso”.
Agora a Rússia, a China e muitos outros países estão ansiosos por obter acesso ao VANT, sublinha a agência iraniana Fars. Os nossos interlocutores também consideram que tal é provável. Possivelmente, a Rússia está interessada não tanto no avião em si como na sua cobertura stealth.
No que respeita à China, ela poderia até construir uma cópia do avião juntamente com o Irã.
Mas, na realidade, uma tal cooperação suscita muitas dúvidas. A China terá interesse somente em obter as tecnologias e não em “devolvê-las” em forma de exemplar acabado ao Irã, caso contrário seria acusada de violação das obrigações internacionais.
Um influente senador independente dos EUA, Joe Lieberman, classificou a declaração de Teerã sobre a intenção de copiar o drone como “fanfarronice” e um gesto de defesa face à ação visível das sanções internacionais.

.Índios usam diplomacia como nova arma em luta por direitos

Para ampliar o arsenal dos índios em disputas com governos e empresas, a maior organização indígena da bacia amazônica tem estimulado movimentos afiliados a recorrer a organismos internacionais. A estratégia motivou a criação de uma "Oficina de Formação em Diplomacia Indígena", cuja primeira edição ocorreu no ano passado e que deve se repetir em 2012.
Organizada pela Coordenação das Organizações Indígenas da Bacia Amazônia (Coica) e pela Agência Espanhola de Cooperação Internacional para o Desenvolvimento (Aecid), a oficina reuniu, em maio de 2011, líderes indígenas de nove países amazônicos em Cartagena, na Colômbia.
Segundo o coordenador técnico da Coica, Rodrigo de la Cruz, há várias ferramentas do direito internacional que podem favorecer os índios em disputas, mas que são pouco usadas.
Com uma diplomacia unificada, diz ele, os indígenas ganham força e seus pleitos têm maior ressonância em organizações internacionais simpáticas a suas causas, como a ONU e a OIT (Organização Internacional do Trabalho).
Na oficina, ministrada por especialistas em direito internacional e representantes de organizações multilaterais, os participantes também foram informados sobre técnicas de persuasão e resolução de conflitos.
Membro da Comissão de Peritos na Aplicação de Convenções da Organização Internacional do Trabalho (OIT) e também ministro do Tribunal Superior do Trabalho (TST), o brasileiro Lélio Bentes Corrêa diz que as discussões na oficina foram "bastante proveitosas".
Ele enfocou em sua exposição a Convenção 169 da OIT, que determina consulta a povos indígenas a respeito de obras ou políticas que possam afetá-los.
Aprovada em 1989 e ratificada ao longo dos 20 anos seguintes por boa parte dos países latino-americanos (o Brasil o fez em 2002), a convenção é tida como um dos principais trunfos dos movimentos indígenas em suas disputas com os governos.
Corrêa diz que, no encontro, foram abordados o alcance da convenção e formas de extrair o máximo dela em benefício dos povos indígenas.
Ele afirma que, ainda que a convenção não garanta aos índios o direito de vetar empreendimentos, exige que governo e empregadores promovam a consulta de boa fé e de forma acessível.
Além disso, diz que os resultados da consulta devem ser levados em conta pelos governantes.
"Não adianta fazer a consulta em termos técnicos se os representantes dos indígenas não têm formação técnica para discutir em pé de igualdade. A consulta deve ter o objetivo genuíno de atingir uma solução satisfatória para todas as partes envolvidas, ou seja, não pode ser uma mera formalidade."
Caso a convenção não seja respeitada por algum país que a ratificou, explica Corrêa, os índios podem comunicar os peritos da OIT, que por sua vez poderão levar o caso ao conhecimento de outros governos e associações de trabalhadores e empregadores representadas na OIT.
Em último caso, diz o ministro, a situação poderá ser exposta na Conferência Internacional do Trabalho, evento ocorrido todos os anos, com potencial constrangimento aos infratores da convenção.
Além desse recurso, Corrêa afirma que a OIT dispõe de um mecanismo de queixas, que pode ser acionado pelos indígenas por intermédio de sindicados ou organizações de empregados que os representem.
Na oficina, os líderes indígenas também foram informados sobre as implicações da Declaração da ONU sobre Direitos dos Povos Indígenas.
Aprovada em 2007, a declaração lista as responsabilidades dos Estados nacionais na promoção dos direitos de povos indígenas, como os referentes ao acesso a terras e à preservação de sua cultura.
O cumprimento da declaração é acompanhado pelo relator especial da ONU para Povos Indígenas e Tribais e pelo Fórum Permanente da ONU para Assuntos Indígenas.
Segundo Corrêa, os líderes presentes na oficina foram orientados sobre como se beneficiar dessa instância e sobre como abastecer o relator especial com informações.
Outro mecanismo apresentado aos líderes foi a possibilidade de acionar a Comissão Interamericana de Direitos Humanos, órgão vinculado à Organização dos Estados Americanos (OEA), quando julgarem que os Estados nacionais não resguardaram seus direitos em algum caso.
Se a comissão julgar a queixa procedente, poderá levá-la à Corte Interamericana de Direitos Humanos (CIDH), cuja jurisdição se aplica a 21 países latino-americanos, entre os quais Argentina, Bolívia, Brasil, Chile, Colômbia, Equador, México, Paraguai, Peru, Venezuela e Uruguai.
Ao contrário dos mecanismos da OIT e da ONU referentes a povos indígenas, a CIDH tem o poder de fixar compensações ou indenizações às partes prejudicadas.
O mecanismo já foi acionado por movimentos indígenas brasileiros no caso da construção da usina hidrelétrica de Belo Monte, no Pará. Argumentando que índios nos arredores da construção não foram consultadas sobre a obra, os movimentos conseguiram fazer com que a comissão pedisse, em abril de 2011, a suspensão das obras.
Em protesto, o Brasil convocou seu embaixador na OEA para consultas, mas enviou uma carta à comissão com informações técnicas sobre o licenciamento do empreendimento. O caso foi encerrado em agosto, quando a comissão recuou do pedido.

Gregos estão divididos entre 10 partidos, diz pesquisa

Os conservadores gregos estão liderando as pesquisas de intenção de voto sobre seus rivais socialistas, indicaram três pesquisas publicadas nesta sexta-feira em jornais locais, antes das eleições gerais de 6 de maio. As sondagens indicam que o número de partidos no Parlamento passará de cinco para dez e entre os grupos políticos que chegarão ao Congresso está o violento partido de extrema direita Aurora Dourada. Isso sinaliza descontentamento com as medidas de austeridade que o governo de coalizão do primeiro-ministro interino, Lucas Papademos, teve que adotar para receber o segundo pacote de socorro do Banco Central Europeu (BCE), da União Europeia (UE) e do Fundo Monetário Internacional (FMI).
Os partidos mais tradicionais, o socialista Pasok e o Nova Democracia, de centro-direita, que governaram a Grécia durante as últimas quatro décadas, têm sido parceiros turbulentos na coalizão de governo de Papademos, que negociou os enormes acordos de reestruturação da dívida pública grega com os bancos e o segundo pacote de resgate. Essas tarefas foram essenciais para evitar uma moratória total da Grécia.
Uma pesquisa feita para o diário Ethnos, de Atenas, indica que 21,9% dos eleitores pretendem votar no Nova Democracia e 17,8% no Pasok. Isso daria aos dois partidos 155 cadeiras no Parlamento de 300, o que garantiria uma maioria muito estreita. Atualmente, os dois partidos combinados têm 201 cadeiras.
"O apoio popular aos dois partidos é muito baixo, uma vez que foram eles que pagaram o preço pela adoção das duras medidas de austeridade", disse Thomas Gerakis, executivo-chefe do Instituto Marketing Research Communications, que fez a pesquisa. A pesquisa feita para o Ethnos entrevistou 1.001 eleitores entre 17 e 19 de abril. A pesquisa indica que outros partidos de esquerda e extrema esquerda, todos rivais, receberão 29% dos votos, enquanto os partidos de direita receberão outros 17,6% dos votos. A Aurora Dourada receberá 5,2% dos votos. A margem de erro não foi divulgada.
Duas outras pesquisas, publicadas nos diários Ta Nea e Eleftheros, divulgaram resultados parecidos, mas uma das pesquisas deu sete pontos porcentuais de vantagem ao Nova Democracia.


       

domingo, 22 de abril de 2012

Egito anula controverso acordo de fornecimento de gás a Israel

O Egito anulou seu acordo com a companhia egípcia que exporta gás a Israel por não respeitar algumas das cláusulas do contrato, afirmou neste domingo o presidente de uma holding governamental à AFP.
A holding Egas e a autoridade geral egípcia do petróleo "anularam na quinta-feira seu contrato com a companhia egípcia East Mediterranean que exportava gás a Israel, já que a companhia não respeitou as condições estipuladas pelo contrato", afirmou à AFP Mohammed Chuaib, presidente da Egas.
A venda de gás a Israel, assinada em um acordo de paz com o Egito em 1979, sempre foi controversa no país mais populoso do mundo árabe. Foi o maior acordo comercial entre os dois ex-inimigos.
Um duto na Península do Sinai usado para fornecer gás egípcio para Israel e Jordânia foi atingido por uma explosão em 9 de abril, no décimo quarto ataque do tipo desde a revolta que tirou o presidente Hosni Mubarak do poder em fevereiro de 2011.
O Egito tem enfrentado problemas relacionados à segurança desde as revoltas. O fornecimento de gás a Israel, estabelecido durante o governo Mubarak, têm sido alvo de críticas no Egito. Israel gera 40% de sua eletricidade com gás natural, e o Egito fornece 43% de seu abastecimento.
Apesar de Israel não ter reagido imediatamente após o cancelamento do acordo, uma companhia com ações na EMG, um consórcio egípcio-israelense, informou estar considerando ações legais contra a EGAS. "A EMG considera o cancelamento do contrato uma ação ilegal e de má fé, e, consequentemente, pedirá sua anulação", afirmou a Ampal-American Israel Corp em um comunicado.
"EMG, Ampal, e outros acionistas internacionais da EMG consideram suas opções legais assim como recorrer a vários governos", informou a companhia. "A EMG procura compensações da EGPC e da EGAS por danos causados pelo rompimento contratual."
As exportações para Israel foram lançadas em 2008, três anos depois do acordo cercado de graves críticas por parte da Irmandade Muçulmana egípcia. Em um contrato de 15 anos envolvendo US$ 2,5 bilhões, a EMG comprometeu-se a vender 1,7 bilhão de metros cúbicos de gás anualmente.
Em janeiro, um advogado de defesa de Mubarak disse a um tribunal no Cairo que não havia evidências relacionando o ex-presidente egípcio ao controverso acordo de gás.
Farid al-Deeb disse que a agência de espionagem egípcia negociou o acordo em linha com as normas internacionais.
"Não há uma única evidência de que Mubarak esteja envolvido no acordo para exportar gás a Israel", a um custo de US$ 714 milhões para o Estado em perdas, disse Deeb ao tribunal

Centenas de soldados do Sudão do Sul são mortos em Heglig

Centenas de soldados do Sudão do Sul morreram na batalha pelo controle de Heglig, a região petrolífera mais importante do país, anunciou Cartum neste domingo. "O número de mortos nas filas do exército do Sudão do Sul e os mercenários na batalha de Heglig é de 400", declarou Nafie Ali Nafie, próximo ao presidente presidente Omar El Bechir, segundo o Centro Sudanês de Meios de Comunicação, próximo às autoridades de segurança.
As baixas sudanesas não foram informadas e o próprio exército não publicou número de vítimas. Um fotógrafo da AFP comprovou a presença de uma centena de feridos em um hospital de Cartum. Durante sua ocupação de Heglig durante 10 dias, o exército do Sudão do Sul afirmou que 19 de seus soldados e 240 soldados sudaneses morreram, dados impossíveis de confirmar.
O Sudão não autorizou a presença de jornalistas nem observadores na região de Heglig durante os confrontos com o Sul, que no domingo afirmou que tinha concluído a retirada de suas tropas. A retirada esteve precedida de intensos contatos diplomáticos para evitar uma ampliação do conflito.
Cartum afirma que venceu o Sudão do Sul e o obrigou a se retirar. O Sudão do Sul ocupou a região petroleira em 10 de abril em uma ação que coincidiu com ondas de ataques aéreos contra o Sul.

MALVINAS - FALKLANDS - BRASIL Ajudou a Traficar Armas para a ARGENTINA

Na Guerra das Malvinas, em 1982, o Brasil participou de complexa operação clandestina de suprimento de armas para a Argentina, montada pela União Soviética e apoiada por Cuba, Peru, Líbia e Angola, revelam José Casado e Eliane Oliveira. Com base em documentos do Conselho de Segurança Nacional e do Itamaraty, foi possível montar o quebra-cabeça que mostra como a ditadura argentina se valeu de uma ponte aérea de armamento com destino a Buenos Aires, com escalas nos aeroportos de Recife e do Galeão, que chegou à média de dois voos diários. Do outro lado da guerra, a Grã-Bretanha recebia ajuda dos EUA, o que motivou os soviéticos a mobilizarem o ditador cubano Fidel Castro para atuar em favor dos argentinos. E o Brasil, enquanto mantinha o discurso oficial de neutralidade, ajudava o governo do general-ditador Leopoldo Galtieri a receber mísseis e aviões russos procedentes da Líbia.
Ponte aérea montada por URSS e Cuba, com auxílio de Khadafi, teve dois voos diários, via Recife e Galeão
As nuvens prenunciavam chuva forte em Brasília na noite da sexta-feira 9 de abril de 1982. O chanceler Ramiro Saraiva Guerreiro assistia ao "Jornal Nacional", quando recebeu um telefonema do brigadeiro Saulo de Mattos Macedo, chefe do Comando Aéreo Regional: um avião cubano invadira o espaço aéreo brasileiro.
No mundo da Guerra Fria, Brasil e Cuba não mantinham relações diplomáticas. Por esse motivo, pela manhã, o Itamaraty negara permissão a um voo da Cubana de Aviación rumo a Buenos Aires. Às 20h40m, o chanceler telefonou para o presidente da República, general João Figueiredo. Minutos depois, dois caças decolaram da base de Anápolis - com alguma dificuldade porque a iluminação da pista fora afetada por raios - em direção ao ponto indicado pelos radares, 300 quilômetros a oeste de Brasília.
Seguiu-se um tenso balé noturno a oito mil metros de altitude. Durou tensos 82 minutos. Só acabou quando os pilotos brasileiros anunciaram a decisão de atirar.
O jato russo Ilyushin II 62-M, matrícula CUT-1225, aterrissou em Brasília às 22h12m. Impressionou agentes da Aeronáutica por um detalhe: tinha capacidade para decolar com 165 toneladas de peso e 180 passageiros, mas na cabine estavam apenas três pessoas - o diplomata cubano Emilio Aragonés Navarro, mulher e neto. Só puderam seguir viagem depois de seis horas de negociações entre os governos do Brasil e da Argentina. Nada se sabe sobre a carga.
Navarro chegou a Buenos Aires por volta das 7h de sábado, 10 de abril, com uma mensagem do líder cubano Fidel Castro para o presidente argentino, general Leopoldo Galtieri: oferta de armas e tecnologia de informações, sob patrocínio da União Soviética, para o conflito com o Reino Unido.
Começava uma operação de suprimento clandestino de armas para a Argentina, montada pela URSS, negociada por Cuba, e com participação do Brasil, Peru, Líbia e Angola.
Foi um episódio singular na lógica da Guerra Fria. Os russos mobilizaram Fidel para socorrer uma ditadura militar ferozmente anticomunista, que confrontava o principal aliado dos Estados Unidos na Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) - o sistema de defesa criado para conter uma eventual invasão soviética na Europa.
Uma semana antes, na madrugada de 2 de abril, os militares argentinos haviam desafiado o Reino Unido invadindo o arquipélago Malvinas, a 500 quilômetros da costa. Pressupondo o apoio dos EUA, Galtieri contara ao embaixador norte-americano, Harry Schlaudemann, sua pretensão de ficar no poder por mais cinco anos, no mínimo. Só não calculara a reação determinada da primeira-ministra Margareth Tatcher - "o homem forte do Reino Unido" aos olhos do presidente Ronald Reagan.
Tatcher recebera em Londres o secretário de Estado dos EUA, Alexander Haig, na noite anterior à interceptação do avião cubano em Brasília. "A menos que impeçamos os argentinos de ter êxito, todos somos vulneráveis", ela comentou, conforme registros oficiais. Haig confortou-a: "Estou seguro de que a senhora sabe que não somos imparciais".
Ela despachara uma frota para as Malvinas, a 13 mil quilômetros de distância. Na conversa, agradeceu o suporte norte-americano, a partir da base da Ilha de Ascensão. Instaladas a 2,7 mil quilômetros da costa brasileira, na altura de Pernambuco, as antenas ali plantadas são os "ouvidos eletrônicos" de Washington no Atlântico Sul.
Antes de se despedir de Haig, Tatcher o conduziu a uma sala da residência oficial. E "deliberadamente" mostrou-lhe retratos de heróis britânicos das guerras napoleônicas, o almirante Horatio Nelson e o general Duque de Wellington - descreveu Haig, impressionado, em telegrama enviado à Casa Branca durante o voo de Londres para Buenos Aires.
Haig fez uma escala em Recife para reabastecer seu avião. Encontrou-se com o então governador de Pernambuco, Marco Maciel, a quem contou que aconselharia aos argentinos negociar, pois seriam vencidos por Tatcher com a ajuda dos EUA.
No dia seguinte reuniu-se com Galtieri. Ouviu do general, que já conversara com o emissário de Fidel, menção às "ofertas de ajuda militar de países não-ocidentais".
A União Soviética redicionara parte dos seus satélites Cosmos para vigilância no Atlântico Sul, onde também mantinha 25 barcos "pesqueiros". A CIA considerava "inusual" esse nível de cobertura soviética na região, mas arriscou um palpite em telegrama a Haig na manhã daquele 9 de abril: "A atividade militar soviética provavelmente ficará restrita aos dados de localização (da frota britânica)".
A Argentina enfrentava um bloqueio financeiro, comercial e militar europeu. Não tinha dinheiro, apenas US$400 milhões em reservas. Também não tinha as armas necessárias. Pagara à França por 14 caças Super Étendard e recebera apenas cinco, com cinco modernos mísseis Exocet. Sem informação de satélites, não poderia localizar navios inimigos - submarinos, nem pensar.
Os britânicos, ao contrário, já recebiam do Pentágono os códigos militares argentinos, imagens diárias e detalhadas das bases e do movimento em Port Stanley (agora Puerto Argentino, capital das Malvinas). Mandaram dois submarinos nucleares para a região, inspirando medo no chefe da Armada, almirante Jorge Anaya, o mais radical da Junta Militar. Desde 1978, Anaya carregava um manuscrito com seu próprio plano para invasão das Malvinas. Na hora da batalha, recolheu a frota aos portos do sul. E não a deixou navegar até o fim da guerra.
Quando Haig voltou a Londres, um Boeing 707 da Aerolíneas Argentinas aterrissou no Rio. Vinha de Tel Aviv, Israel, com destino à base de El Palomar, na periferia de Buenos Aires. Foi conduzido para reabastecimento ao lado de aeronaves civis no aeroporto do Galeão, apesar do porão estar lotado com uma carga de bombas e minas terrestres.
"Gradualmente" - registrou o Conselho de Segurança Nacional em memorando ao presidente Figueiredo--, a Argentina estreitava "seus contatos com o Brasil, em graus diversos de formalidade". E requeria "cooperação em termos mais concretos".
Brasília começou a receber lista de pedidos: créditos e facilidades para operações triangulares de comércio com a Europa; aviões para entrega imediata; bombas incendiárias e munição para fuzis; sistemas de radar e querosene de aviação, entre outras coisas.
O Itamaraty recomendava "tratamento favorável" a quase tudo, enquanto a tensão aumentava no ritmo da marcha da frota britânica pelo Atlântico Sul.

Brasil pode enviar tropa para a Guiné-Bissau

Brasília – Os efeitos do golpe de Estado na Guiné-Bissau (África) e a busca por uma solução negociada dominarão os debates das reuniões da União Africana na próxima segunda-feira (23), na Etiópia. O ministro das Relações Exteriores, Antonio Patriota, disse hoje (20) que “ainda seria um pouco prematuro” considerar a participação nas forças de paz na região. Mas ele não descartou a hipótese.
O chanceler disse que não foi fechada uma definição sobre o envio de forças de paz para Guiné-Bissau. Segundo ele, o assunto preocupa a comunidade internacional como um todo, tanto que o Brasil mantém diálogos permanentes com a União Africana e também com a Organização das Nações Unidas.
“Continuamos acompanhando com preocupação [os acontecimentos na Guiné-Bissau] ”, disse Patriota, depois de reunião com o ministro dos Negócios Estrangeiros da Sérvia, Vuk Jeremi, no Itamaraty. “Ainda seria um pouco prematuro determinar a composição de uma forças de paz.”
No dia 12, um grupo de militares prendeu o presidente da Guiné-Bissau, Raimundo Pereira, o primeiro-ministro, Carlos Gomes Júnior e o chefe do Estado-Maior das Forças Armadas, António Indjai. O comando do grupo anunciou que as ações foram motivadas pela insatisfação com a presença de militares angolanos em missão no país, ajudando na reforma da área de defesa.
O golpe ocorreu há oito dias. O clima de tensão e apreensão persiste no país. Paralelamente, a comunidade internacional ameaça adotar restrições ao país, como o congelamento de ativos, a proibição de viagens e a responsabilização criminal. O Brasil e os países que integram a Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) defendem que seja cobrado dos militares golpistas o restabelecimento da democracia.

França: Marine Le Pen consegue exorcizar a extrema-direita

PARIS — Ao conquistar o terceiro lugar das eleições presidenciais, a líder da extrema direita, Marine Le Pen, atingiu seu objetivo: impor-se em alguns meses na liderança de um partido de passado sulfuroso, que ela exorcizou, e levar a extrema-direita a um nível jamais alcançado.
Com quase um eleitor em cinco (18,2 à 20%) no primeiro turno, a deputada europeia que cresceu na sombra de seu pai Jean-Marie Le Pen, fundador de um dos partidos de extrema-direita mais poderosos da Europa, instalou-se na paisagem política francesa, por um longo tempo.
Nunca um partido de extrema direita chegou a um tal percentual numa eleição nacional na França.
Dez anos após o feito de seu pai - uma classificação surpreendente para o segundo turno -, Marine Le Pen fez mais, em termos de números de eleitores conquistados. Recolheu 7 pontos a mais do que ele na eleição em 2007 do presidente Nicolas Sarkozy. "Ela me sucedeu", reagiu calorosamente Jean-Marie Le Pen.
Seu companheiro e vice-presidente do partido, Louis Aliot, declarou-se muito satisfeito com o desempenho dela.
Marine Le Pen advertiu, durante a campanha eleitoral, que não pediria a seus eleitores que votassem no chefe de Estado no segundo turno. Sarkozy tinha sido eleito, em parte, graças aos votos dos eleitores da Frente Nacional, seduzidos por seu discurso firme.
Aos 43 anos, ela se soma às mulheres políticas que fazem soprar um vento de extrema direita na Europa, a exemplo de Pia Kjaersgaard, a presidente do Partido do Povo Dinamarquês, ou de Krisztina Morvai, deputada europeia na chapa do partido nacionalista húngaro Jobbik.
Até onde ela vai?, perguntam-se, agora, os observadores que preveem uma margem de votos na extrema direita acima de 20%, no futuro, ao contrário do período de 1972 a 2011, quando Jean-Marie Le Pen liderava a Frente Nacional, em meio a declarações racistas ou antissemitas.
Toda a estratégia empregada por sua filha, que chegou em janeiro de 2011 à liderança do partido, visava a fazer "explodir" a direita na preferência dos franceses. Ou, mais simplesmente, fazer da Frente Nacional um partido "normal" que pudesse chegar ao governo e não apenas um partido de contestação.
Sorridente, enérgica e dotada de bom senso, ela procurou tornar-se a solução para as preocupações dos franceses com o desemprego e a desindustrialização. Junto com as ladainhas habituais contra as elites, os imigrantes e os mercados financeiros, a ex-advogada colocou em destaque o protecionismo e a saída do euro.
Descrita pela própria mãe como a "Le Pen com cabelos", divorciada e mãe de três filhos, ela lançou-se à corrida presidencial na chefia de um partido desembaraçado, pelo menos parcialmente, de seus membros antissemitas e católicos fundamentalistas.
Ela diz querer ser a porta-voz dos "invisíveis", desses "esquecidos", das classes médias e populares que se sentem mais e mais "desamparados". Eles poderiam representar 40% da população, segundo alguns sociólogos.
Marine Le Pen entrou na política em 1993 como candidata por Paris às legislativas. Tinha 24 anos e o diploma de advogada, depois de ter cursado direito na universidade de Assas em Paris, onde grupúsculos de extrema-direita são historicamente ativos.
A partir de 2002, aquela que os velhos barões do FN viam como uma "night clubbeuse" arrivista e sem cultura política, empreendeu uma ascensão contínua, com o apoio de seu pai. Impôs-se no primeiro plano em 2005, por ocasião da rejeição, por referendo, do tratado constitucional europeu.
Em um ano, conseguiu fazer o partido evoluir. Pediu a Católicos fundamentalistas, nostálgicos da Argélia francesa, e até do regime de Vichy, que colaborou com a Alemanha nazista, que se calassem ou deixassem a agremiação.
Com a cobertura da defesa de um Estado laico, ela concentra seu discurso sobre os muçulmanos, lançando um debate sobre o sistema halal de abate da carne.

«Fizemos tremer o sistema», diz Le Pen

A candidata da extrema-direita francesa às eleições presidenciais, a quem as últimas projeções atribuem 19,6 por cento dos votos, afirmou que a Frente Nacional fez «tremer o sistema» e é «a única força contra a esquerda».

«Esta primeira volta é o início de um vasto encontro de patriotas de esquerda e de direita, de defensores da identidade nacional. Aconteça o que acontecer, a batalha da França acabou de começar. Nada será como dantes. Face a todo o sistema de coligações com mentiras, face a falsas sondagens, todos juntos, fizemos explodir o monopólio dos partidos da banca e da finança», afirmou Marine Le Pen, citada pela Lusa, não esclarendo se vai apoiar o candidato da direita que passou à segunda volta, Nicolas Sarkozy.

A líder da Frente Nacional, pela primeira vez candidata às eleições presidenciais, afirmou ainda que agora, «face a um presidente cessante a dirigir um partido enfraquecido», a extrema-direita é «a única força contra a esquerda».

Hollande vence Sarkozy também no segundo turno, apontam novas pesquisas

O socialista François Hollande vence o segundo turno das eleições presidenciais francesas conquistando entre 53% e 56% das intenções de voto de acordo com resultados de cinco pesquisas de opinião pública realizadas domingo, após o anúncio da votação do primeiro turno. De acordo com as sondagens, a migração de votos dos candidatos derrotados beneficiaria principalmente o adversário do presidente Sarkozy.
As pesquisas apontam a vitória do candidato socialista com índices que variam de 53% do Instituto BVA até 56%, do instituto CSA. Mas em todas elas, as sondagens revelam que os eleitores da candidata da extrema-direita, Marine Le Pen, que chegou em terceiro na corrida eleitoral, preferem o presidente Sarkozy no segundo turno. A transferência de votos de Le Pen para Sarkozy varia entre 60% segundo o Instituto Ipsos até 44% de acordo com o Harris Interactive.
Já os votos da candidata de extrema-direita para o socialista Hollande oscilam entre 17% e 31% de acordo com diferentes institutos de pesquisas. Já os eleitores de Jean-Luc Mélenchon da Frente de Esquerda vão votar em sua grande maioria, de 83% a 91%, no candidato socialista.
Os partidários do centrista François Bayrou são mais divididos, indicam os institutos de pesquisa. Entre 25% e 32% dos eleitores devem votar no presidente Sarkozy enquanto uma faixa entre 40% e 38%, tende a votar em François Hollande.
Cerca de 35% dos eleitores de Bayrou podem se abster de votar no segundo turno, afirmam algumas pesquisas.
2° turno
Em seu discurso após a publicação das estimativas de votos no primeiro turno, o candidato socialista se diz “confiante” no segundo turno e se apresentou como candidato de união dos franceses e o melhor colocado para ser o próximo presidente.
Nicolas Sarkozy disse na frente de seus partidários que a participação dos eleitores, maior do que a prevista, contradisse os institutos de pesquisa e afirmou que vai consagrar toda sua energia para reverter a derrota no primeiro turno.
Ele lançou um desafio ao seu adversário propondo a realização de três debates entre os dois turnos sobre questões econômicas e sociais, de sociedade e de relações internacionais. Hollande recusou a proposta, afirmando que defende um só debate como é tradição na França.

Extrema-direita francesa consegue número recorde de votos

A candidata da extrema-direita, Marine Le Pen, conseguiu o maior número de votos da história da Frente Nacional (FN) em uma eleição na França. Ela conseguiu entre 17 e 20,7% de votos no primeiro turno das presidenciais francesas, segundo as primeiras estimativas publicadas domingo.
Marine Le Pen conseguiu 17% dos votos segundo o instituto de pesquisas CSA, 19% segundo o Ipsos e 20,7%, segundo Harris Interativa.
O recorde precedente tinha sido alcançado em 2002 quando o pai de Marine, Jean Marie Le Pen, surpreendeu obtendo 16,86% dos votos, e disputou o segundo turno com Jacques Chirac, eliminando o socialista Lionel Jospin.
Este ano, a FN não vai participar do segundo turno da eleição, que será disputada no dia 6 de maio entre o candidato socialista François Hollande, que obteve entre 28 e 30% dos votos, e o presidente Nicolas Sarkozy, que obteve entre 24 e 27,5%.
Marine Le Pen, de 43 anos, tomou o lugar de seu pai na presidência do FN no começo de 2011. Durante a campanha, ela afirmou querer defender a “França invisível”, os “esquecidos” da crise e a identidade nacional contra a presença dos muçulmanos na França.

quinta-feira, 19 de abril de 2012

Percentual de famílias com conta em atraso é o maior em 7 meses

O percentual de famílias com dívidas ou contas em atraso ficou em 23% no mês de abril, o maior patamar desde setembro do ano passado (24,3%). Em fevereiro, tinha sido 21,8%. Já na comparação com o mesmo período de 2011, houve leve queda.
Os dados fazem parte de pesquisa divulgada nesta quinta-feira (19) pela CNC (Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo).

"As famílias com dívidas em atraso vem crescendo apesar de haver um queda no total de endividados, o que mostra que as pessoas estão com dívidas altas", afirma a economista da CNC Marianne Hanson.
A pesquisa confirma que isso vem ocorrendo. A parcela de famílias que relatou possuir dívidas (não necessariamente em atraso) recuou em abril, alcançando 56,8%, ante 57,8% em março e 62,6% no mesmo mês do ano anterior. O levantamento considera débitos de cheque pré-datado, cartão de crédito, carnê de loja, empréstimo pessoal, prestação de carro e seguros.

O percentual de famílias que declarou não ter condições de pagar suas contas ou dívidas em atraso apresentou ligeiro aumento entre os meses de abril e março.
Neste mês, 6,9% das famílias declarou não ter condições de pagar seus débitos, ante 6,7% em março e 7,8% em abril de 2011.
Entre as famílias com contas ou dívidas em atraso, o tempo médio de atraso foi de 59,6 dias em abril, superior aos 58,8 dias do mesmo mês do ano passado.

O cartão de crédito - rotativo ou compra parcelada - foi apontado como um dos principais tipos de dívida por 73,7% das famílias endividadas, seguido por carnês, para 19,1% e, em terceiro, o crédito pessoal, para 12,4%.
A pesquisa foi realizada em todas as capitais dos Estados e no Distrito Federal com cerca de 18 mil consumidores.

A estratégia do Irã

Por séculos, o dilema enfrentado pelo Irã (e antes dele, pela Pérsia) tem sido o de garantir a sua sobrevivência nacional e autonomia em face de poderes regionais mais fortes, como o dos impérios turco-otomano e russo. Embora sempre mais fraco do que esses impérios maiores, o Irã sobreviveu por três razões: pela geografia, por seus recursos naturais e pela diplomacia. O tamanho do Irã e seu terreno montanhoso sempre representaram uma dificuldade e um perigo para as incursões militares em seu território. O Irã também sempre mostrou habilidade em reunir suficiente força de campo para deter eventuais ataques estrangeiros enquanto permitia afirmações ocasionais de poder. Ao mesmo tempo, Teerã sempre esteve engajada em esforços diplomáticos inteligentes, jogando potências ameaçadoras umas contra as outras.

A intrusão de potências imperiais europeias dentro da região constituiu as dificuldades do Irã no século XIX, juntamente com o estabelecimento do poder britânico a oeste do país, no Iraque, e na Península Arábica após o fim da Primeira Guerra Mundial. Isto coincidiu com a transformação da economia global num sistema centrado no uso do petróleo.

Daí então, a região passou a ser uma das principais fontes globais de petróleo. Onde os britânicos tinham interesses genéricos, a emergência do petróleo como a base do poder industrial e militar fez com que tais interesses se tornassem urgentes e vitais. Após a Segunda Guerra Mundial, americanos e soviéticos tornaram-se as potências estrangeiras com a capacidade e vontade de influenciar a região, mas a realidade estratégica básica iraniana persistiu. O Irã enfrentou ameaças tanto globais como regionais com as quais teve que lidar repelindo-as ou alinhando-se com elas. E, em função do petróleo, as potências globais não perderam seu interesse no país, ao passo que as potências regionais não tiveram a opção de perder esse interesse.

Tanto sendo governado pelo Xá ou pelo Aiatolá, a estratégia do Irã permaneceu a mesma: deter pela geografia, proteger com forças defensivas, e exercitar suas complexas manobras diplomáticas. Todavia, por baixo dessa realidade, o Irã sempre esteve à espreita de outra visão.

O Irã como uma potência regional

Esse conceito do Irã – de um país com uma postura essencialmente defensiva – como uma potência regional se consolidou. O Xá competia com a Arábia Saudita sobre Omã e sonhava com armas nucleares. Ahmadinejad duela, por Bahrein, com a Arábia Saudita por Bahrein, que também ambiciona ter armas nucleares. Quando se enxerga para além da retórica – algo que devemos fazer sempre que estudamos sobre política externa, uma vez que a retórica é usada para intimidar, seduzir e confundir potências estrangeiras e o público em geral – constata-se uma continuidade substancial na estratégia iraniana desde a Segunda Guerra Mundial. O Irã ambiciona conseguir domínio regional ao se libertar de suas limitações e das ameaças representadas pelas demais potências regionais.

Desde a última guerra mundial, o Irã teve que lidar com perigos regionais, como o Iraque, com o qual travou uma guerra brutal que durou quase uma década e que custou ao Irã cerca de um milhão de baixas. Teve também que lidar com os EUA, cujo poder no final das contas definiu padrões na região. Desde que os EUA passaram a ter um exacerbado interesse na região, o Irã não teve alternativa senão a de definir suas políticas em termos americanos. Para o Xá Rheza Pahlevi, isto significou submeter o país aos EUA enquanto sutilmente tentava controlar as ações americanas por lá. Para a república islâmica, significou se opor aos EUA enquanto tenta manipular suas ações adotando medidas de interesse do Irã. Ambos agiram dentro da tradição iraniana de uma estratégia sutilmente elaborada.

A república islâmica provou ser mais bem sucedida do que o reinado do Xá. Conduziu uma sofisticada campanha de desinformação que antecedeu a guerra de 2003 no Iraque para convencer os EUA de que invadir o Iraque seria militarmente fácil e que os iraquianos até receberiam os americanos de braços abertos. Isto alimentou os existentes desejos americanos de invadir o Iraque, tornando-se um fator a mais entre os muitos que fizeram a invasão parecer factível. Numa segunda fase, os iranianos ajudaram muitas facções no Iraque a resistir aos americanos, tornando a ocupação – e os planos para a reconstrução do Iraque segundo os projetos estadunidenses – um pesadelo. Numa terceira e última fase, o Irã está usando sua influência política e religiosa no Iraque para dividir e paralisar o país após a retirada já em curso dos americanos.

Como resultado desta manobra, o Irã já conquistou dois objetivos. Primeiro, os americanos depuseram o arqui-inimigo do Irã, Saddam Hussein, fazendo com que o Iraque se tornasse estrategicamente aleijado. Segundo, o Irã ajudou a forçar a saída americana do Iraque, criando um vácuo de poder no país e desmoralizando a credibilidade americana na região – e minando qualquer apetite dos EUA para posteriores aventuras militares no Oriente Médio. Deve-se enfatizar que tudo isso não foi um estratagema iraniano: muitos outros fatores contribuíram para esta sequência de eventos. Ao mesmo tempo, a manobra iraniana não foi menor no processo; o Irã explorou com competência os eventos que ele mesmo ajudou a moldar.

Houve nisto um ponto defensivo. O Irã via os EUA invadirem países que o circundavam, o Iraque no oeste e o Afeganistão no leste. Enxergava os EUA como extremamente poderosos e imprevisíveis ao ponto de serem irracionais, embora também capazes de serem manipulados. Teerã, portanto, não podia desconsiderar a possibilidade dos EUA escolherem guerrear contra o seu país. Retirar os EUA do Iraque, entretanto, limitou o leque de opções dos americanos na região.

Tal estratégia também teve uma dimensão ofensiva. A retirada dos EUA do Iraque posicionou o Irã para preencher o inevitável vácuo de poder. De forma crítica, a geopolítica da região criou uma abertura para o Irã provavelmente pela primeira vez em séculos de história. Primeiro, o colapso da União Soviética afrouxou a pressão vinda do norte. Com o colapso otomano proveniente da Primeira Guerra Mundial, o Irã então não mais passou a enfrentar uma potência regional que pudesse desafiá-lo. Segundo, com volta dos americanos para casa, as forças globais no Golfo Pérsico e no Afeganistão passaram a ter opções militares limitadas e opções políticas ainda mais limitadas de ação contra o Irã.

A oportunidade do Irã

O Irã agora tem a oportunidade de considerar ser mais uma potência regional emergente do que unicamente se dedicar a manobras complexas para proteger a autonomia iraniana e a soberania do regime islamo-fascista instalado no país. Os iranianos compreenderam que as disposições das potências globais mudaram de forma imprevisível, a dos EUA mais do que a da maioria das outras. Portanto, o país soube que quanto mais agressivo ele se tornasse, mais os EUA poderiam militarmente se comprometer em contê-lo. Ao mesmo tempo, os EUA poderiam agir desta forma mesmo sem qualquer ação iraniana. Apropriadamente, o Irã buscou uma estratégia que pudesse solidificar sua influência regional sem, todavia, desencadear uma retaliação americana.

Quem quer que estude os Estados Unidos da América, compreende a preocupação desse país com armas nucleares. Através da Guerra Fria os americanos viveram na sombra de um possível primeiro ataque soviético. O governo Bush usou a possibilidade remota de um Iraque nuclear para reunir apoio ocidental para a invasão, com base na existência, hoje desmistificada, de ‘armas de destruição em massa’. Quando os soviéticos e os maoistas chineses obtiveram armas nucleares, a resposta americana beirou o pânico. Os EUA simultaneamente se tornaram mais cautelosos e precavidos em suas abordagens com relação a esses países.

Ao olhar a Coreia do Norte, os iranianos reconheceram um padrão do qual eles poderiam tirar vantagem. A sobrevivência da ditadura norte coreana, num país de pouca significância, era incerta na década de 1990. Quando esta pequena economia levou adiante um programa nuclear, no entanto, os EUA concentraram pesadamente o seu foco na ameaçadora Coreia do Norte, passando a ter mais cautela ao lidar com ela.

Uma atividade diplomática tremenda e ajuda periódica ao miserável povo massacrado pela ditadura norte-coreana foram estabelecidas para manter o programa nuclear de Kim Jong II dentro de limites seguros. Do ponto de vista norte-coreano, na verdade, adquirir armas nucleares prontas estava fora de questão; a Coreia do Norte não era uma potência importante como a China ou a Rússia, e um erro de cálculo da parte de Pyongyang poderia levar a mais agressão dos EUA. Ao invés disso, o processo de desenvolvimento de armas nucleares em si inflou a importância da Coreia do Norte enquanto passou a induzir os EUA a oferecer incentivos ou impor sanções econômicas relativamente ineficientes (e, pois evitando ações militares mais perigosas). A Coreia do Norte se tornou a peça chave da preocupação americana, ao passo que os EUA evitaram ações que pudessem desestabilizar a Coréia do Norte e tornar inutilizáveis as armas nucleares que o país pudesse ter.

Os norte-coreanos sabiam que tendo uma arma nuclear pronta para uso era uma estratégia perigosa, mas tal programa de desenvolvimento de armas nucleares daria ao país um nivelamento, embora possivelmente tornasse o povo mais miserável ainda – algo que nunca preocupou muito
Pyongyang, mas que os iranianos aprenderam muito bem. Do ponto de vista iraniano, um programa nuclear faz com que os EUA simultaneamente os levem mais a sério e aumente sua cautela ao lidar com o Irã. No momento atual, os EUA lideram um grupo de países com diversos graus de entusiasmo quanto à imposição de sanções econômicas que podem causar dor social ao Irã, o que dá aos EUA e seus aliados um pretexto para não encetar uma ação militar que o Irã realmente teme e que os americanos não querem mesmo levar adiante.

Israel, no entanto, tem que adotar uma postura diferente em face do programa nuclear e das possíveis armas nucleares do Irã, uma vez que, explicitamente, o regime islamo-fascista de Mahamoud Ahmadinejad já gritou para o mundo inteiro ouvir a sua intenção de «varrer Israel do mapa». Apesar de não ameaçar os EUA, o programa nuclear iraniano ameaça explicitamente a existência do Estado de Israel, única ilha de excelência civilizacional na região. O problema dos israelenses é que eles têm que confiar na inteligência do Mossad quanto ao nível de informação relativa ao possível – para eles provável – programa de armas nucleares do Irã. Os EUA podem aguentar um erro de cálculo; Israel pode não ter essa capacidade. Esta incerteza torna Israel imprevisível… E perigoso. Do ponto de vista iraniano, entretanto, um ataque israelense poderia ser bem vindo.

O Irã não tem armas nucleares e podem estar seguindo a estratégia norte-coreana de nunca ter armas prontas para o uso. Se estiverem procedendo assim, todavia, e os israelenses atacarem e destruírem suas instalações atômicas, os iranianos teriam razões para adquirir armas nucleares no ‘mercado prêt-à-porter’. Mas, se os israelenses atacarem e não conseguirem destruir as tais instalações, os iranianos emergiriam do episódio mais fortes e com todas as justificativas para desenvolverem um arsenal nuclear. Poderiam, os persas, retaliar fechando o Estreito de Hormuz, embora isso certamente empurraria a OTAN para o lado dos israelenses, algo que Teerã não deseja de forma alguma. Por isso, as ameaças de Ahmadinejad de fechar o estreito, analisadas sob o cálculo frio das opções estratégicas válidas, não passam de retórica. Os EUA, que em última análise são a salvaguarda e a garantia do fluxo marítimo global de petróleo da Arábia Saudita e vizinhança teria motivos mais do que suficientes para se engajarem militarmente contra o regime de Teerã. A guerra é a continuação da diplomacia e a solução mais cara e arriscada. Não interessa nem ao Ocidente, muito menos ao Oriente Médio, e tampouco às potências maiores do Oriente, como China, Rússia e os chamados «tigres asiáticos», países que teriam muito a perder pela simples proximidade de um conflito armado dessa natureza. Assim, é de se esperar que as tratativas diplomáticas coloquem juízo nas cabeças de ambos os lados para que não cheguem às vias de fato. Um ataque israelense às instalações nucleares persas, seja ou não bem sucedido, criaria o palco para que o Irã tomasse providências que poderiam ameaçar a economia global – por mais temerosos que estejam das suas consequências –, fariam com que Israel assumisse um papel de vilão, e resultaria em que os EUA fossem forçados pelas potências europeias e asiáticas a, de fato, garantir o fluxo de petróleo para o Ocidente (e até para o próprio Oriente) mediante inicialmente algumas concessões diplomáticas mas, eventualmente, através de ações militares. Tal ataque israelense, independente do seu resultado, custaria pouco ao Irã e criaria, para os persas, oportunidades substanciais. Acredita-se que os iranianos querem um programa nuclear de geração de eletricid
ade, não de armas atômicas, mas ocorrendo um ataque israelense o programa se destinaria também à produção de ogivas nucleares da forma mais justificada possível.

A opção nuclear se situa na categoria de manipulação iraniana de potências regionais e globais, um jogo perigoso, mas, também, uma longa e histórica necessidade para os persas. Mas, outro, e mais significativo, evento está a caminho na Síria.

A importância da Síria para o Irã

Enquanto essa análise é escrita, caso o regime sírio de Al Assad sobreviva, isto se dará em parte em função do apoio iraniano. Isolada do resto do mundo, a Síria se tornaria dependente do Irã. Se tal coisa acontecer, a esfera de influência iraniana se estenderia do oeste do Afeganistão a Beirute no Líbano. Tal ocorrência, por sua vez, alteraria fundamentalmente o equilíbrio de forças no Oriente Médio, satisfazendo a ambição do Irã de se tornar uma potência regional dominante no Golfo Pérsico e além. Isto seria o velho sonho do Xá e dos Aiatolás. E é por isso que os EUA estão atualmente tão obcecados com a Síria.

O que tal esfera de influência proporcionaria aos iranianos? Três coisas.

Primeiro, forçaria a potência global dos EUA a abandonar qualquer ideia de destruir o Irã, pois o fôlego de sua influência produziria perigosamente resultados imprevisíveis. Segundo, legitimizaria o regime ditatorial iraniano e para além de qualquer legitimidade que possa atualmente ter. Terceiro, com aliados ao longo das fronteiras ao norte da Arábia Saudita no Iraque e Síria ao longo da costa oeste do Golfo Pérsico, o Irã poderia forçar mudanças na distribuição financeira das rendas do petróleo. Deparando-se com as necessidades de preservação de seus regimes, a Arábia Saudita e os demais estados do golfo teriam que ser mais flexíveis com as exigências persas, para citar o menos. Desviando esse dinheiro para Teerã fortaleceria enormemente o país.

O Irã tem posto em prática sua estratégia sob os regimes de várias ideologias. O Xá, que muitos consideravam psicologicamente instável e megalomaníaco, buscava aplicar essa estratégia com moderação e cuidado. O regime atual de um politburo islamo-fascista, também considerado ideológica e psicologicamente instável, tem sido igualmente contido em suas ações. Retórica e ideologia podem errar, e usualmente é para isso que elas servem.

Tal estratégia no longo prazo, praticada desde o século XVI depois que a Pérsia se tornou islâmica, agora assiste a abertura de uma janela de oportunidade, concebida de certo modo pelo próprio Irã. O objetivo de Teerã é o de ampliar a paralisia americana na região enquanto explora as oportunidades que a retirada americana do Iraque está criando.

Simultaneamente, a autoritária teologia política de Teerã quer criar uma esfera de influência coerente para fazer com que os EUA tenham que se acomodar com o fim de satisfazer a demanda de sua coalizão por um suprimento estável de petróleo para o resto do mundo e de limitar qualquer conflito na região.

O Irã está buscando executar uma estratégia de duas partes, para tal fim. A primeira é evitar providências repentinas, de modo a permitir que os processos sigam naturalmente os seus cursos. A segunda é criar uma diversão através de seu programa nuclear, fazendo com que os EUA repitam a mesma política que aplicaram na Coreia do Norte no Irã. Caso o programa nuclear persa leve a um ataque aéreo israelense, o Irã poderá por sua vez tirar vantagem disso também. Os iranianos entendem que ter armas nucleares é perigoso, mas ter um programa de armas nucleares é vantajoso. Porém, a chave não é o programa nuclear, que é apenas uma ferramenta para desviar a atenção do que está realmente acontecendo – uma considerável mudança no equilíbrio de poder no Oriente Médio.


George Friedman é um americano cientista político e autor. Ele é o fundador, chefe oficial de inteligência , superintendente financeiro e CEO do privado inteligência empresa Stratfor. Ele é autor de vários livros, incluindo os próximos 100 anos e a Próxima Década e guerra secreta da América e The Edge Inteligência e da vinda guerra com o Japão e o futuro da guerra.
http://en.wikipedia.org/wiki/George_Friedman

Tradução de FRANCISCO VIANNA

Professores da UFPR decidem entrar em greve em 15 de maio

Professores da Universidade Federal do Paraná (UFPR) decidiram entrar em greve a partir do dia 15 de maio. A decisão favorável pelo indicativo de greve foi tomada nesta quinta-feira (19) em uma assembleia realizada pela Associação dos Professores da Universidade Federal do Paraná (Apufpr), no campus do Centro Politécnico, na qual compareceram 150 docentes da instituição. De acordo com a Apufpr, cerca de 70% dos professores aderiu à paralisação realizada nesta quinta-feira.
Os professores querem que o governo federal cumpra as promessas feitas no fim da greve realizada no ano passado– como o reajuste de 4% nos salários em março de 2012 e a reestruturação do plano de carreira dos docentes – e sustentam novas reivindicações. Para este ano, os professores, junto do movimento nacional da categoria, pedem, entre outras medidas, um reajuste salarial de 22,08%, porcentagem equivalente às perdas com a inflação nos últimos três anos, o reconhecimento de uma database para a categoria e melhoria das condições de trabalho.
Segundo Rogério Miranda Gomes, secretário-geral da Apufpr, os docentes da UFPR ainda negociam o limite de 12 horas em sala de aula para a realização de outras atividades acadêmicas. “O mínimo que o governo federal estabelece é de oito horas de trabalho e a média da universidade é de nove horas. O problema é que essa divisão é desigual, há professores com 9 horas de sala de aula e outros com 28 horas”, explica Rogério. “O ideal é que, em uma carga horária de 40 horas, o professor tenha tempo para outras atividades como a orientação de alunos em monografias, em mestrado, doutorado, preparação de aulas, pesquisa, entre outros”, exemplifica.
Neste fim de semana, representantes de sindicatos de universidades federais do Brasil, incluindo a Apufpr, se reunirão em Brasília com dirigentes da Sindicato Nacional dos Docentes das Instituições de Ensino Superior (Andes-SN) para avaliar os reflexos da paralisação desta quinta-feira e as possibilidades de negociação com o governo.

ONU afirma que Sudão do Sul viola soberania sudanesa

O secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, disse nesta quinta-feira que o Sudão do Sul cometeu um "ato ilegal" ao capturar um campo petrolífero disputado com o Sudão e pediu aos dois países que evitem que os confrontos na fronteira levem a uma guerra. O Sudão do Sul ficou independente do Sudão em julho passado, e os dois países ainda têm diversas pendências a acertar, inclusive quanto à posse de alguns campos petrolíferos.
Na semana passada, tropas sul-sudanesas ocuparam o campo petrolífero de Heglig. A reação de Cartum ao incidente gerou temores de que duas nações africanas voltem a se enfrentar em guerra declarada, o que não ocorre desde o conflito entre Etiópia e a então recém-independente Eritreia, entre 1998 e 2000. "Peço ao Sudão do Sul que retire forças imediatamente de Helig. Trata-se de uma infração à soberania do Sudão, e um ato claramente ilegal", disse Ban a jornalistas.
"Peço também ao governo do Sudão que pare imediatamente de bombardear o território sul-sudanês e que retire suas forças dos territórios disputados. Tenho imprimido a ambas as partes a necessidade de acabar com os combates e retornar às negociações. Eles ainda não atenderam ao apelo."

Índia testa com sucesso míssil nuclear de longo alcance

A Índia testou nesta quinta-feira um novo míssil de longo alcance com capacidade nuclear, capaz de atingir qualquer alvo no território chinês, revelou a agência encarregada do desenvolvimento de tecnologias (DRDO).
O míssil, um Agni V, da classe IRBM de projéteis "intermediários", com alcance inferior a 6.400 km, foi disparado às 08h05 (23h35 de Brasília) de um ponto situado no Estado de Odisha, na costa leste do país.
"Anuncio o lançamento com sucesso do Agni V (...) um acontecimento histórico que honra nosso país no âmbito da tecnologia de mísseis", declarou o chefe da DRDO, V.K. Saraswat, à TV estatal NDTV.
As autoridades indianas previam o lançamento para a tarde de quarta-feira na ilha de Wheeler, situada em frente à costa oriental do país, no Golfo de Bengala, mas o plano teve de ser adiado devido a uma forte tempestade.
"A Índia é hoje um país com capacidade provada para projetar, desenvolver e produzir um míssil balístico de longo alcance. Agora somos uma potência em matéria de mísseis", disse o chefe do DRDO, V.K. Saraswat.
"O rendimento do míssil Agni-V ficou provado com sucesso em suas três fases. Todos os objetivos da missão e os objetivos operacionais foram alcançados", acrescentou.
O teste é um passo considerável para a terceira potência econômica da Ásia, envolvida em um vasto programa de aquisições militares para modernizar o exército e ampliar seu sistema de defesa, especialmente diante da China.
O Agni V é um míssil de 50 toneladas e 17 metros capaz, em teoria, de atingir alvos em toda a Ásia, incluindo qualquer ponto da China, além de certas regiões da Europa, segundo os especialistas.
Apenas China, Rússia, França, Estados Unidos e Grã-Bretanha têm mísseis balísticos intercontinentais (ICBM), de alcance superior a 5.500 km.





Complexos de mísseis S-400 e Pantsir-S passarão pela Praça Vermelha em 9 de maio

Foto: RIA Novosti
Dezesseis complexos de mísseis S-400 e Pantsir-S passarão pela Praça Vermelha em 9 de maio, durante a Parada da Vitória, comunica o representante oficial do Ministério da Defesa.
Atualmente no Exército russo estão criados dois regimentos de S-400, duas divisões em cada um deles, o terceiro regimento está sendo criado na Frota do Báltico.
O destacamento de parada das Tropas de Defesa Aeroespacial participará no evento solene pela primeira vez.
Na coluna de peões do exército tomarão parte mais de 1200 cursistas. No total a Parada da Vitória em Moscou contará com mais de 14000 partecipantes e cerca de 100 unidades de armamentos e técnica militar.

EUA e Israel falam em "vantagem militar" em diálogo sobre Irã

O ministro da Defesa israelense, Ehud Barak, reuniu-se nesta quinta-feira com seu colega americano, Leon Panetta, pela segunda vez em um mês no Pentágono, para falar da "vantagem militar qualitativa de Israel" e sobre o apoio americano para garantir a superioridade do aliado em relação a seus vizinhos. O Pentágono informou que as duas autoridades também dialogaram sobre outras questões como os conflitos diplomáticos com o Irã, a crise na Síria e a Primavera Árabe.
Washington tenta tranquilizar Israel sobre sua vontade de impedir que o Irã detenha uma arma atômica e de convencer o país a privilegiar as sanções e a diplomacia antes dos ataques a instalações nucleares iranianas, sobre os quais Tel Aviv dá sinais ambíguos. O premiê israelense, Benjamin Netanyahu, afirmou na quarta-feira que "as pessoas que se negam a ver a ameaça iraniana não aprenderam nada do Holocausto". Segundo ele, elas "têm medo de dizer a verdade, que hoje, como então (durante a Segunda Guerra Mundial), há pessoas que querem aniquilar milhões de judeus".
O Irã manteve no último sábado pela primeira vez em 15 meses conversas com as grandes potências do 5+1 (os cinco países do Conselho de Segurança da ONU mais a Alemanha), em Istambul, e os sete países concordaram em voltar a se reunir em 23 de maio em Bagdá. O ministro de Relações Exteriores do Irã, Ali Akbar Salehi, disse no fim dessas reuniões que qualquer disputa poderia ser resolvida rapidamente se o Ocidente mostrasse boa vontade e levantasse as sanções contra Teerã. Os Estados Unidos ameaçam com sanções qualquer país que compre petróleo do Irã, que por sua vez alega que seu programa nuclear tem fins pacíficos.