quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

Oposição pede eleição para substituir Derosso

Licença do tucano vai durar seis meses. Oposicionistas alegam que lei prevê afastamento máximo de quatro meses. Requerimento deve ser votado na próxima semana
A bancada de oposição na Câmara de Curitiba pediu ontem o afastamento definitivo do vereador João Cláudio Derosso (PSDB) da presidência da Casa e a realização de eleição para escolha de um novo presidente para o Legislativo municipal. A votação do requerimento, no entanto, ficou para a semana que vem, já que o presidente interino da Casa, Sabino Picolo (DEM), disse que havia dúvidas sobre a legalidade do pedido. O requerimento dos oposicionistas foi encaminhado para o departamento jurídico da Câmara.
O argumento da oposição é que Derosso não poderia ficar mais de 120 dias (quatro meses) afastado de sua função sem perder o cargo de presidente. Os oposicionistas dizem que o entendimento se baseia na Lei Orgânica do Município. O texto, porém, não fala sobre o cargo de presidente: prevê apenas a perda de mandato para o vereador que se licenciar por mais de quatro meses. “O regimento é omisso em relação ao afastamento da presidência, mas acre­­ditamos que é possível fazer uma analogia, até para não criar priviégios”, afirmou a vereadora Professora Josete (PT), uma das responsáveis pelo requerimento.
Derosso está licenciado da presidência da Câmara desde novembro do ano passado. Ele se afastou do cargo depois que o Ministério Público Estadual (MP) o denunciou à Justiça por suspeitas de irregularidades na gestão dos contratos de publicidade da Câmara. O vereador presidia a Casa havia 14 anos. À Justiça, o MP ainda havia solictado o afastamento de Derosso em caráter liminar. Mas ele se antecipou e pediu licença por 90 dias. O juiz Jaílton Juan Carlos Tontini disse que não julgaria o afastamento enquanto ele se mantivesse fora do cargo por iniciativa própria.
Na semana passada, quando estava prestes a se encerrar o primeiro período de afastamento, Derosso pediu a prorrogação de prazo por mais 90 dias (somando 180 dias, ou seis meses). A nova licença foi votada no último dia 15, e concedida por unanimidade. A oposição, porém, afirmou que não sabia o que estava votando, já que o requerimento havia sido colocado em meio a vários outros.
Adiamento
De acordo com Sabino Picolo, o departamento jurídico da Câmara terá de se pronunciar dentro de 48 horas sobre o pedido de afastamento definitivo de Derosso. “Como é um tema delicado e havia dúvidas, o melhor é consultar o jurídico para ter certeza sobre o procedimento que deve ser adotado”, afirmou o Picolo. Derosso, por sua vez, disse ontem apenas que “está tranquilo” quanto ao requerimento por acreditar que fez tudo dentro do regimento.
A oposição informou saber que não tem votos para aprovar o pedido de uma nova eleição para a presidência da Casa, mas aposta que o melhor a fazer é manter o tema em evidência, até para causar desgaste nos aliados do Derosso, que não gostariam de ter de se manifestar sobre o assunto.
Dos 38 vereadores de Curitiba, apenas cinco fazem parte oficialmente da oposição: três do PT e dois do PMDB. Além deles, anunciaram que devem votar a favor do afastamento definitivo de Derosso os vereadores Paulo Salamuni, do PV, e Zé Maria, do PPS. A vereadora Renata Bueno (PPS), que costuma votar com a oposição neste tema, está em viagem à Itália.
Líder da bancada do PSDB, o vereador Emerson Prado afirmou ontem que Derosso agiu dentro do que o regimento permite. “Mas acreditamos que, depois dessa nova prorrogação [da licença de Derosso], é preciso tomar uma decisão final sobre se ele volta ou não à presidência.”

Foco das suspeitas, publicidade está com licitação suspensa
O presidente interino da Câmara de Curitiba, Sabino Picolo (DEM), afirmou ontem que a licitação para a escolha de novas agências de publicidade para fazer divulgação das ações do Legislativo está adiada por tempo indeterminado. Segundo ele, só quando forem encerradas as investigações sobre os contratos anteriores o processo licitatório será retomado.
A Câmara abriu a nova licitação da propaganda da Casa em maio de 2011, quando estavam se encerrando os contratos assinados em 2006 com as agências Visão Publicidade e Oficina da Notícia. A abertura dos envelopes estava marcada para 19 de julho. No entanto, em julho a Gazeta do Povo revelou que o Tribunal de Contas investigava irregularidades nos contratos e a licitação foi suspensa.
“Vamos esperar que a investigação chegue ao fim para só depois retomar o processo”, afirmou ontem Sabino Picolo. “Por enquanto, não se faz nada.” Estão suspensas atualmente todas inserções publicitárias da Casa. Apenas a publicação de editais (publicidade oficial obrigatória) continua a ser feita.
Mulher
As suspeitas de irregularidades na publicidade da Câmara surgiram pelo fato de a Oficina da Notícia pertencer à jornalista Cláudia Queiroz Guedes, mulher do presidente licenciado da Casa, João Cláudio Derosso (PSDB). A agência dela gerenciou, de 2006 a 2011, R$ 5 milhões de dinheiro do Legislativo municipal.
As denúncias passaram a ser investigadas pelo Ministério Público Estadual (MP) e também foram alvo de apurações internas. O MP denunciou Derosso à Justiça por improbidade administrativa. Na Câmara, o Conselho de Ética chegou a recomendar o afastamento de Derosso da presidência, mas o pedido foi arquivado. Uma comissão parlamentar de inquérito (CPI) foi formada, mas não recomendou punições ao vereador.
Números
R$ 5 milhões foi o valor gerido pela empresa da mulher de Derosso, a Oficina da Notícia, de 2006 até 2011. A licitação para escolher as novas empresas está parada desde julho.
7 vereadores dos 38 se pronunciaram até o momento a favor do afastamento definitivo de Derosso da presidência.
14 anos ininterruptos foi o tempo em que Derosso permaneceu ­na presidência da Câmara.

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