As ruas centrais da capital francesa foram invadidas por uma multidão de
militantes e simpatizantes do Partido Socialista para comemorar a vitória do
François Hollande nas eleições presidenciais da França deste domingo. Regada a
champagne, a festa não tem hora para acabar na praça da Bastilha, onde os
militantes esperam a chegada de Hollande, o primeiro socialista a presidir o
país nos últimos 17 anos.
A concentração começou na Rue Solférino, próxima à Assembleia Nacional e onde
fica a sede do Partido Socialista. Com rosas e balões coloridos nas mãos,
jovens, idosos, crianças e famílias inteiras esperavam o resultado das pesquisas
de boca de urna. Alegre e ansiosa, uma massa humana multicultural, formada por
brancos, negros, loiros, pardos, asiáticos e árabes aumentava a cada segundo na
medida em que o relógio se aproximava das 20h (15h em Brasília), horário em que
tradicionalmente as emissoras de televisão exibem o rosto do novo presidente.
Quando os cronômetros marcavam 19h59min40s, a dezenas de milhares de pessoas
iniciaram uma contagem regressiva até visualizar a imagem do socialista -
Hollande venceu.
"Nós ganhamos! Nós ganhamos!", foi a frase escolhida para festejar, por
longos minutos, enquanto as champagnes eram estouradas e despejadas sobre os
militantes. Um pouco mais de "François presidente! François presidente!", e
chegou a hora de comemorar também o fim do governo Sarkozy. "Sarkozy, c'est
fini! Sarkozy, 'c'est fini!" (Sarkozy acabou).
Muitos filmavam, fotografavam e não desgrudavam dos telefones, transmitindo
ao vivo o clima da comemoração nas redes sociais. O momento mais emocionante foi
quando a multidão cantou a Marselhesa, o hino da França, com o vigor e a euforia
de quem acabara de vencer uma Copa do Mundo.
Desconhecidos se abraçaram; os mais entusiastas, choraram. "Choro porque faz
cinco anos que eu me sinto perseguida, humilhada. Esta não era a França",
desabafou a estudante Zoha Abhetan, de origem marroquina, que vive desde os 6
anos no país. Uma das marcas do governo do conservador era o cerco à imigração,
tanto ilegal quanto legal, e a relação delicada que mantinha com os franceses de
origem magrebina, a região do norte da África colonizada pela França no século
XIX.
Com o filho de 3 anos sobre os ombros, o engenheiro Claude Lepont concorda.
"Fiz questão de trazer os meus filhos para eles verem desde cedo que existe
outra França, mais humanista, mais solidária. Tenho muita esperança nesta
mudança de governo", comentou.
"Felizmente, os franceses são menos estúpidos que eu estava imaginando.
Depois da altíssima votação da extrema direita no primeiro turno, eu tinha
ficado muito decepcionada", afirmou outra estudante, Céline J., com corações
desenhados nas bochechas. "É para homenagear a mensagem política de Hollande,
uma mensagem de união, de amor", explicou.
Minutos depois do anúncio da vitória, os militantes começaram a marchar pela
cidade rumo à praça da Bastilha, onde a festa continuou. Pelo menos 100 mil
pessoas se concentram no local e, enquanto aguardam o novo presidente, se
divertem com shows de diversos artistas franceses que apoiaram a campanha
socialista, como Yannick Noah. O local da festa da vitória não foi escolhido à
toa: a Queda da Bastilha marcou o início da Revolução Francesa, em 1789.
Depois de ganhar o primeiro turno com 28,6% dos votos, François Hollande
confirmou a vitória nas urnas neste domingo, com 51,7% das cédulas. Ele deve
assumir o cargo na semana que vem, no dia 15 de maio.
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