Rickard Falkvinge está orgulhoso. De máquina fotográfica na mão e com o pin
do Partido Pirata ao peito, o engenheiro de computação sueco documenta mais uma
vitória do movimento que fundou. Os piratas estão crescendo mais rapidamente do
que ele esperava.
"É como se fosse um bebê", diz. "Quando o bebê é pequeno, temos uma série de
expectativas. Mas à medida que ele vai ficando mais velho, ele não cresce da
forma que tínhamos planejado. Ainda assim, sentimos amor e orgulho."
O Partido Pirata alemão recebeu no domingo passado 7,8% dos votos nas
eleições do estado mais populoso da Alemanha, a Renânia do Norte-Vestfália.
Assim, pode enviar pela primeira vez deputados para a assembleia legislativa
estadual. Falkvinge diz estar "cheio de orgulho" com o resultado. Os piratas
festejaram a vitória com as bandeiras cor de laranja do partido, espadas feitas
com balões e muito ruído.
É na Alemanha que o movimento tem alcançado algumas das suas mais importantes
vitórias: os piratas alemães já conquistaram assentos em quatro assembleias
estaduais e, de acordo com as sondagens, deverão entrar no Bundestag (câmara
baixa do Parlamento) em 2013. Desde a criação do primeiro Partido Pirata, em
2006 na Suécia, os piratas já conseguiram enviar dois deputados para o
Parlamento Europeu. O movimento já está presente em cerca de 60 países, nos
vários continentes.
Próxima parada: América do Sul
"Este é um movimento mundial e estamos somente começando", diz Gregory Engels, co-presidente do Partido Pirata Internacional, uma organização que coordena 29 partidos em todo o mundo. Segundo ele, aumentar a presença na América do Sul, bem como na África e na Ásia, é um dos próximos objetivos.
"Este é um movimento mundial e estamos somente começando", diz Gregory Engels, co-presidente do Partido Pirata Internacional, uma organização que coordena 29 partidos em todo o mundo. Segundo ele, aumentar a presença na América do Sul, bem como na África e na Ásia, é um dos próximos objetivos.
No Brasil, o movimento pirata existe desde o final de 2007. Mas só este mês
deverá reunir as assinaturas necessárias e oficializar-se como partido político,
já de olho nas eleições de 2014. Na sua página online, o movimento diz querer
apresentar ao povo brasileiro uma "nova maneira de se fazer política".
Falkvinge diz que o Partido Pirata tem muito para oferecer na América do Sul,
onde o processo de democratização é relativamente recente. "Muitas das antigas
práticas de corrupção permanecem debaixo da superfície e penso que as nossas
ideias podem trazer alguma coisa para esta e para a próxima geração quanto à
questão da transparência".
Origens do crescimento
Os analistas políticos utilizam a expressão "início fulminante" para descrever a ascensão do movimento pirata. Os piratas querem ser um movimento de resposta às alterações trazidas pelo mundo digital. Eles questionam o atual conceito de propriedade intelectual, defendem mais liberdade na Internet e transparência absoluta nas decisões políticas. "Respondemos a questões que os outros partidos nem sequer sabem que têm de ser colocadas", resume Falkvinge.
Os analistas políticos utilizam a expressão "início fulminante" para descrever a ascensão do movimento pirata. Os piratas querem ser um movimento de resposta às alterações trazidas pelo mundo digital. Eles questionam o atual conceito de propriedade intelectual, defendem mais liberdade na Internet e transparência absoluta nas decisões políticas. "Respondemos a questões que os outros partidos nem sequer sabem que têm de ser colocadas", resume Falkvinge.
Os críticos dizem que o programa do partido tem falhas: na Alemanha, os
piratas têm sido apelidados de utópicos (o partido defende, por exemplo,
transporte público grátis para todos) e têm sido acusados de não oferecerem
respostas para questões como a presença militar alemã no Afeganistão ou a crise
da dívida na zona do euro.
Ainda assim, os piratas conquistaram os eleitores. De acordo com o alemão
Michael Lühmann, cientista político do Instituto de Göttingen para a Pesquisa
sobre a Democracia, os piratas vieram "responder às preocupações dos cidadãos"
na sequência de um descontentamento geral com a forma como se faz política. O
voto no Partido Pirata, diz, é principalmente um voto de protesto.
O grande salto na popularidade dos piratas deu-se em 2011, um ano de vários
protestos em todo o mundo. Milhares de manifestantes do movimento Occupy
acamparam em Nova York, Frankfurt, Londres e em muitas outras cidades mundiais
para protestar contra a injustiça social, a corrupção e a forma como os governos
no mundo responderam à crise financeira.
Na capital espanhola, Madri, os "indignados" também foram às ruas pedir uma
"democracia real", em que todos os cidadãos sejam ouvidos e não apenas as
grandes empresas ou bancos. O ano de 2011 foi também o da Primavera Árabe, em
que as revoltas populares destronaram líderes políticos que estavam há décadas
no poder
A oposição dos piratas a projetos como o ACTA (Anti-Counterfeiting Trade
Act), um tratado internacional que teria como objetivo uniformizar medidas para
o combate à pirataria de filmes e de música, contribuiu também para que o
movimento crescesse exponencialmente.
Depois do sucesso inicial
Lühmann adverte para os perigos de um crescimento tão rápido quanto maior for a ascensão do Partido Pirata, maior poderá ser a queda, diz. O fundador Falkvinge diz que o partido não pode tomar como garantia de sucesso as sucessivas vitórias dos últimos tempos. Será que o seu bebê está dando um passo maior do que a perna?
Lühmann adverte para os perigos de um crescimento tão rápido quanto maior for a ascensão do Partido Pirata, maior poderá ser a queda, diz. O fundador Falkvinge diz que o partido não pode tomar como garantia de sucesso as sucessivas vitórias dos últimos tempos. Será que o seu bebê está dando um passo maior do que a perna?
"Estamos sem dúvida a crescer mais rápido do que a nossa estrutura consegue
suportar neste momento", reconhece. "Isso poderá ser um problema, mas,
simultaneamente, há bastante entusiasmo e muita vontade de mudar o mundo para
melhor."
Falkvinge diz que depois da eleição surge também o problema da reeleição, um
dos desafios do movimento: "Ser reeleito é um jogo completamente diferente".
E nisso os piratas poderão estar em vantagem relativamente a outros grupos
políticos. Numa entrevista em abril deste ano, Falkvinge associou a estratégia
política à estratégia nos jogos e disse em tom meio descontraído: "Nós, piratas,
jogamos muitos videogames".
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