Os egípcios vivem com grande expectativa uma campanha eleitoral na qual os
candidatos presidenciais aproveitaram para desmontar mitos e deixar sua própria
marca. As ruas do país, repletas de cartazes eleitorais de todos os tamanhos e
cores, são um reflexo do mosaico de tendências que, com maior ou menor força,
influirão na eleição dos próximos dias 23 e 24. Dos 11 candidatos em disputa,
quatro são os que despertaram maior atenção da mídia: o ex-secretário-geral da
Liga Árabe Amr Moussa, o islâmico Abdel Moneim Abul Futuh; o candidato da
Irmandade Muçulmana, Mohammed Mursi; e o ex-primeiro-ministro Ahmed Shafiq.
São eles que protagonizaram as últimas pesquisas e mantêm a incerteza em uma
campanha que começou com a desqualificação de vários candidatos, protestos
contra o poder militar e sangrentos distúrbios.
Desde então, os aspirantes presidenciais encheram os canais de televisão de
mensagens, tanto em forma de anúncios publicitários como de entrevistas.
O primeiro debate presidencial na história do Egito entre Moussa - que falou
de sua experiência política e tentou se distanciar de Mubarak - e Abul Futuh -
que explorava sua imagem de moderado a favor da revolução frente a seu passado
como membro da Irmandade Muçulmana - despertou enorme interesse.
Sem tirar os olhos das televisões dos cafés no centro do Cairo, centenas de
jovens comentavam a discussão entre os rivais.
"É ótimo poder ouvir a opinião dos candidatos. Pela primeira vez temos um
debate. É algo único, que me faz sentir a democracia", exclamou emocionado um
dos presentes, Sayed Elsisi.
Por sua vez, o candidato da Irmandade Muçulmana, Mohammed Mursi, não quis
participar do debate e centrou sua campanha em atos eleitorais.
Em um recente comício dos islâmicos contra o zoológico da capital, milhares
de pessoas receberam Mursi, acompanhado por importantes clérigos, em um ato no
qual não faltaram seguidores "ultras" que, tal como nos jogos de futebol,
cantavam e exibiam cartazes.
As diferentes campanhas levaram às ruas todo tipo de veículos: desde os
modernos ônibus de Abul Futuh até o trem de Moussa, passando pelos populares
"tuk tuk" de três rodas usados pela Irmandade Muçulmana que, dispostos a bater
recordes, também tentaram criar a mais longa corrente humana do mundo entre as
cidades de Alexandria (norte do país) e Assuã (sul).
Cientes de que o Egito não é somente o Cairo, os candidatos viajaram com
frequência a diversas partes do país, sobretudo para a densamente povoada região
do Delta do Nilo, além de fazer visitas ocasionais ao Sinai e ao Alto Egito.
Todos eles aproveitaram estas viagens para se aproximar de personalidades
locais e conseguir a lealdade de muitos habitantes das zonas rurais.
Nos arredores do Cairo, homens da cidade de Janca - muitos deles vestidos com
a tradicional túnica ou "galabeya" - ouviram atentos o discurso de Moussa nesta
semana em uma grande tenda, enquanto as mulheres aguardavam do lado de fora e
cochichavam sobre a chegada de forasteiros.
Abul Futuh, por sua vez, quis atrair os jovens com vídeos promocionais de
marionetes e músicas pegajosas, espetáculos teatrais e encontros com grupos de
mulheres e pessoas com incapacidade.
Em um destes últimos atos, o funcionário Said el Adaoui, com problemas de
mobilidade nas pernas, se mostrou cético em relação às propostas dos candidatos.
"Quero formar uma opinião própria agora que há mais liberdade e Mubarak não
está mais no poder", afirmou Adaoui, que culpou as autoridades por não terem lhe
oferecido muletas nem uma casa própria com uma pequena parte do valor das ajudas
internacionais à cooperação.
A maioria de candidatos se identificou com o desenvolvimento integral do
Egito como uma forma de sair dos 30 anos sob o poder de Mubarak.
Apenas Ahmed Shafiq usou sua imagem de último primeiro-ministro de Mubarak,
com ideias como a de "fazer e não falar", para ganhar o voto dos defensores do
antigo regime.
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