O líder do partido de esquerda Syriza, Alexis Tsipras, anunciou nesta
quarta-feira em Atenas que desistiu de constituir um governo de coalizão, já que
não conseguiu formar uma maioria "para um governo de esquerdas" oposto à
austeridade. A ação amplia a possibilidade de que o país tenha novas eleições
dentro de algumas semanas, após o inconclusivo pleito de domingo passado que
apontou uma forte rejeição popular ao resgate internacional.
"Não podemos realizar nosso sonho de um governo de esquerdas. Amanhã vou
devolver o mandato que o presidente da República me confiou e vamos continuar
participando dos procedimentos previstos pela Constituição", disse Tsipras
diante de seu grupo parlamentar.
Os tradicionais partidos Nova
Democracia (conservador) e Pasok (socialista) foram os maiores derrotados pela
insatisfação dos gregos contra medidas de austeridade impostas em troca do
resgate financeiro da União Europeia (UE) e do Fundo Monetário Internacional
(FMI). O impasse pós-eleitoral mergulhou o país em uma grave crise política, e
levou a ameaças europeias de exclusão da Grécia do euro.
Os governos europeus mantiveram a Grécia solvente por enquanto, concordando
em liberar uma parcela de 4,2 bilhões de euros na quinta-feira, o que permitirá
que Atenas honre títulos com vencimento no curto prazo. Mas, em um sinal de
crescente insatisfação com a situação na Grécia, outra parcela de 1 bilhão de
euros foi retida, provavelmente até o mês que vem. Tsipras, líder da Coalizão
Esquerda Radical, havia sido encarregado de tentar formar um governo depois que
o Nova Democracia, partido mais votado no domingo, admitiu não ter como formar
maioria.
Mas o Nova Democracia e o Pasok rejeitaram participar da coalizão
esquerdista, pois a pré-condição para isso seria renegar o pacote internacional.
A tarefa de tentar formar o governo será agora delegada ao líder do Pasok,
Evangelos Venizelos. Caso ele também fracasse, uma nova eleição deve ser
convocada para dentro de três a quatro semanas. "Nossa proposta desfrutava de
apoio amplo na sociedade, mas fraco no Parlamento. Não seremos capazes de
realizar nosso sonho de um governo de esquerda", disse Tsipras à sua bancada, a
segunda maior no Parlamento eleito domingo.
Antonis Samaras, líder da Nova Democracia, disse que rejeitou um acordo com
Tsipras porque ele queria "a saída da Grécia do euro e a falência do país".
"Isso é algo que não farei", acrescentou ele, após reunião com o líder
esquerdista. Venizelos afirmou que tentará conciliar as forças políticas, mas
não parece haver margem para um acordo entre os grupos pró e contra o pacote de
resgate financeiro. "Devemos formar um governo e dar ao país uma perspectiva de
futuro, esperança e segurança", afirmou o dirigente socialista, que deve receber
na quinta-feira um prazo de três dias para formar uma coalizão.
O Nova Democracia e o Pasok se alternam há décadas no poder na Grécia, e
juntos negociaram o pacote de fevereiro que resultou na entrega de 130 bilhões
de euros ao país. No domingo, eles receberam menos de um terço dos votos, e
ficaram a dois deputados de formarem maioria parlamentar. As pesquisas mostram
que a grande maioria dos gregos quer manter o euro como moeda - o que é
amplamente visto como impossível sem um resgate internacional -, mas estão
furiosos com os dois partidos tradicionais, vistos como culpados por uma das
piores recessões da Europa desde a Segunda Guerra Mundial, pelo desemprego
recorde e pela corrupção endêmica.
A maioria da população acredita que os cortes exigidos pela UE e o FMI só
estão piorando a situação, por agravarem o desemprego e impedirem uma
recuperação econômica.
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