quarta-feira, 4 de abril de 2012

Com recompensa de US$10 mi, militante desafia EUA no Paquistão

Quem quer ficar milionário? No Paquistão, basta fornecer aos EUA informações que levem à prisão ou condenação de Hafiz Saeed, um líder militante cujo paradeiro geralmente não é nenhum mistério. Saeed é suspeito de tramar o ataque de 2008 a Mumbai, na Índia, que resultou na morte de 166 pessoas, incluindo seis norte-americanos.
As autoridades dos EUA anunciaram na segunda-feira uma recompensa de até US$ 10 milhões por Saeed, mas na quarta-feira ele andava abertamente pela cidade de Rawalpindi, na companhia de algumas das mais notórias personalidades antiamericanas do Paquistão. "Esse é um anúncio risível, absurdo. Aqui estou eu na frente de todos, sem me esconder em uma caverna", disse Saeed numa entrevista coletiva em um hotel a apenas 40 minutos de carro da embaixada norte-americana em Islamabad, e em frente ao quartel-general do Exército paquistanês, que recebe bilhões de dólares anuais em ajuda dos EUA.
"Agora que sua cabeça tem um preço por esse dinheiro, todo mundo está disposto a fazer qualquer coisa", disse o funcionário público Javed, de 55 anos, que não revelou o sobrenome. "Quando as pessoas virem o dinheiro não haverá salvação para ele, só Deus pode salvá-lo." Em Washington, fontes do governo disseram que a recompensa foi divulgada após meses de discussões entre agências dos EUA envolvidas no combate ao terrorismo. Apenas três outros militantes merecem uma recompensa maior. O líder da Al Qaeda, Ayman al Zahahiri, "vale" 25 milhões de dólares.
Libertado da prisão domiciliar em 2009, Saeed é um homem livre no Paquistão, país que é aliado estratégico dos EUA, apesar da atual fase de tensão nas relações bilaterais em decorrência de ações como a operação militar secreta dos EUA em território paquistanês que resultou na morte do fundador da Al Qaeda, Osama Bin Laden, no ano passado. Os EUA, que acusam Saeed de ser ligado à Al Qaeda e representar uma grave ameaça, acreditam que a recompensa motivará uma avalanche de informações que possam resultar na prisão e condenação do militante.
As autoridades paquistanesas disseram que Saeed e sua organização, a Jamaat-ud-Dawa, foram inocentados pela Justiça local, e acusam os EUA de se portarem como num faroeste. "Os Estados Unidos estão agindo como Clint Eastwood", disse um alto funcionário que pediu anonimato. "É como se eles quisessem entrar cavalgando no Paquistão e arrastar gente como ele." Outro alto funcionário de segurança corroborou esse argumento, enquanto a TV mostrava repetidamente as imagens de Saeed.
"O que aconteceria se oferecêssemos uma recompensa pela cabeça do presidente (Barack) Obama porque aviões teleguiados dos EUA às vezes matam civis paquistaneses?", indagou. Esses ataques com aviões não-tripulados, que os EUA consideram altamente eficazes no combate a militantes, são profundamente impopulares no Paquistão e não raro causam mortes de civis.

Nenhum comentário:

Postar um comentário