domingo, 22 de abril de 2012

França: Marine Le Pen consegue exorcizar a extrema-direita

PARIS — Ao conquistar o terceiro lugar das eleições presidenciais, a líder da extrema direita, Marine Le Pen, atingiu seu objetivo: impor-se em alguns meses na liderança de um partido de passado sulfuroso, que ela exorcizou, e levar a extrema-direita a um nível jamais alcançado.
Com quase um eleitor em cinco (18,2 à 20%) no primeiro turno, a deputada europeia que cresceu na sombra de seu pai Jean-Marie Le Pen, fundador de um dos partidos de extrema-direita mais poderosos da Europa, instalou-se na paisagem política francesa, por um longo tempo.
Nunca um partido de extrema direita chegou a um tal percentual numa eleição nacional na França.
Dez anos após o feito de seu pai - uma classificação surpreendente para o segundo turno -, Marine Le Pen fez mais, em termos de números de eleitores conquistados. Recolheu 7 pontos a mais do que ele na eleição em 2007 do presidente Nicolas Sarkozy. "Ela me sucedeu", reagiu calorosamente Jean-Marie Le Pen.
Seu companheiro e vice-presidente do partido, Louis Aliot, declarou-se muito satisfeito com o desempenho dela.
Marine Le Pen advertiu, durante a campanha eleitoral, que não pediria a seus eleitores que votassem no chefe de Estado no segundo turno. Sarkozy tinha sido eleito, em parte, graças aos votos dos eleitores da Frente Nacional, seduzidos por seu discurso firme.
Aos 43 anos, ela se soma às mulheres políticas que fazem soprar um vento de extrema direita na Europa, a exemplo de Pia Kjaersgaard, a presidente do Partido do Povo Dinamarquês, ou de Krisztina Morvai, deputada europeia na chapa do partido nacionalista húngaro Jobbik.
Até onde ela vai?, perguntam-se, agora, os observadores que preveem uma margem de votos na extrema direita acima de 20%, no futuro, ao contrário do período de 1972 a 2011, quando Jean-Marie Le Pen liderava a Frente Nacional, em meio a declarações racistas ou antissemitas.
Toda a estratégia empregada por sua filha, que chegou em janeiro de 2011 à liderança do partido, visava a fazer "explodir" a direita na preferência dos franceses. Ou, mais simplesmente, fazer da Frente Nacional um partido "normal" que pudesse chegar ao governo e não apenas um partido de contestação.
Sorridente, enérgica e dotada de bom senso, ela procurou tornar-se a solução para as preocupações dos franceses com o desemprego e a desindustrialização. Junto com as ladainhas habituais contra as elites, os imigrantes e os mercados financeiros, a ex-advogada colocou em destaque o protecionismo e a saída do euro.
Descrita pela própria mãe como a "Le Pen com cabelos", divorciada e mãe de três filhos, ela lançou-se à corrida presidencial na chefia de um partido desembaraçado, pelo menos parcialmente, de seus membros antissemitas e católicos fundamentalistas.
Ela diz querer ser a porta-voz dos "invisíveis", desses "esquecidos", das classes médias e populares que se sentem mais e mais "desamparados". Eles poderiam representar 40% da população, segundo alguns sociólogos.
Marine Le Pen entrou na política em 1993 como candidata por Paris às legislativas. Tinha 24 anos e o diploma de advogada, depois de ter cursado direito na universidade de Assas em Paris, onde grupúsculos de extrema-direita são historicamente ativos.
A partir de 2002, aquela que os velhos barões do FN viam como uma "night clubbeuse" arrivista e sem cultura política, empreendeu uma ascensão contínua, com o apoio de seu pai. Impôs-se no primeiro plano em 2005, por ocasião da rejeição, por referendo, do tratado constitucional europeu.
Em um ano, conseguiu fazer o partido evoluir. Pediu a Católicos fundamentalistas, nostálgicos da Argélia francesa, e até do regime de Vichy, que colaborou com a Alemanha nazista, que se calassem ou deixassem a agremiação.
Com a cobertura da defesa de um Estado laico, ela concentra seu discurso sobre os muçulmanos, lançando um debate sobre o sistema halal de abate da carne.

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