O Palácio do Planalto voltou a negociar cargos e indicações políticas com
partidos aliados nos últimos dias como forma de evitar ser vítima de fogo amigo
na CPI que vai investigar as relações de agentes públicos com o empresário
Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, acusado de comandar uma rede de
jogos ilegais.
O temor dos articuladores políticos do governo é de que a CPI, que deve ser
instalada na próxima quarta-feira, sirva de palco para a vingança de aliados
insatisfeitos com o tratamento recebido pelo Planalto - em especial indicações
para estatais e cargos públicos.
Há preocupação do Planalto com a fidelidade dos aliados, confirmou uma fonte
do governo, sob condição de anonimato. Segundo a fonte, a ministra Ideli
Salvatti, das Relações Institucionais, voltou a se reunir na terça com o líder
do PMDB na Câmara, Henrique Eduardo Alves (RN), para "aparar as arestas".
"O PMDB preocupa pelo tamanho da bancada, mas também pelo histórico", disse
outra fonte do governo, ao relembrar a rejeição pelo Senado de um nome indicado
por Dilma à Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT). A não recondução,
decidida em voto secreto, foi para a conta do PMDB, principal aliado na coalizão
que elegeu Dilma.
Na conversa com Alves, Ideli se comprometeu a monitorar nomeações e acelerar
o processo. Na segunda-feira, a presidente Dilma Rousseff - que diz que não há
"toma lá, dá cá" na relação do Executivo com o Legislativo - já havia nomeado um
nome de Alves para a direção do Departamento Nacional de Obras contra as Secas
(Dnocs). A indicação dormia no Planalto havia pelo menos dois meses.
Segundo a fonte, a atuação na CPI de parlamentares do PMDB, que tem a segunda
maior bancada na Câmara e terá muita força na comissão mista, preocupa o
governo. Outros aliados também devem receber "afagos" do Planalto nos próximos
dias para garantir que a CPI não seja utilizada como arma política para atingir
o governo.
"Os deputados da base estão bem felizes com a perspectiva da CPI", afirmou um
parlamentar aliado do governo ao comentar a necessidade do Executivo de melhorar
a relação com o Congresso em épocas de CPI.
Oficialmente, o discurso do governo tem sido de não-interferência nas
decisões do Legislativo. O presidente da Câmara dos Deputados, Marco Maia
(PT-RS), tem dito que em momento algum recebeu pedido do Planalto para evitar ou
atrasar a CPI.
Enquanto monitora aliados, o Planalto acompanha a disputa interna na bancada
do PT na Câmara para a indicação do nome do relator da CPI. A presidência ficará
com o PMDB do Senado. Segundo uma fonte do PT, a disputa é entre o grupo do
presidente da Casa, Marco Maia, e do líder do PT, Jilmar Tatto (SP), que tem a
simpatia de Ideli, contra nomes como o do ex-líder do governo na Câmara, Cândido
Vaccarezza (PT-SP).
"É o grupo petista da Dilma contra o grupo petista do Lula", brincou um
deputado aliado. Tatto afirmou que a decisão sobre o nome do relator será tomada
até terça-feira. Os dois principais candidatos são Odair Cunha (MG), que tem
apoio do Planalto, e Vaccarezza, nome defendido pelo ex-presidente Lula.
Demóstenes e Carlinhos Cachoeira
Em 6 de março de 2012, o senador Demóstenes Torres (GO) subiu à tribuna para dar explicações sobre as denúncias de sua proximidade com o bicheiro Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, descoberta pela operação Monte Carlo, da Polícia Federal, que terminou em fevereiro, com a prisão de Cachoeira e de outras 34 pessoas. Demóstenes disse que a violação do seu sigilo telefônico não havia obedecido critérios legais. Dez dias depois, o jornal Folha de S.Paulo publicava um relatório do Ministério Público Federal (MPF) que indicava que o grupo comandado por Cachoeira entregou telefones antigrampos para políticos, entre eles Demóstenes, que admitiu ter recebido o aparelho.
Em 6 de março de 2012, o senador Demóstenes Torres (GO) subiu à tribuna para dar explicações sobre as denúncias de sua proximidade com o bicheiro Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, descoberta pela operação Monte Carlo, da Polícia Federal, que terminou em fevereiro, com a prisão de Cachoeira e de outras 34 pessoas. Demóstenes disse que a violação do seu sigilo telefônico não havia obedecido critérios legais. Dez dias depois, o jornal Folha de S.Paulo publicava um relatório do Ministério Público Federal (MPF) que indicava que o grupo comandado por Cachoeira entregou telefones antigrampos para políticos, entre eles Demóstenes, que admitiu ter recebido o aparelho.
O jornal O Globo noticiou, em 23 de março, gravações da PF que
flagraram Demóstenes pedindo para Cachoeira lhe pagar R$ 3 mil em despesas com
táxi-aéreo e vazando informações sobre reuniões reservadas que manteve com
representantes dos três Poderes. Em 27 de março, Demóstenes pediu afastamento da
liderança do DEM no Senado para "acompanhar a evolução dos fatos". No dia
seguinte, o Psol entrou com representação contra o parlamentar no Conselho de
Ética do Senado e, um dia depois, em 29 de março, o ministro do Supremo Tribunal
Federal (STF) Ricardo Lewandovski autorizou a quebra do sigilo bancário de
Demóstenes, solicitando ainda um levantamento sobre as emendas e os projetos
relatados por ele para saber se Cachoeira, acusado de controlar a máfia dos
caça-níqueis e de corromper policiais e políticos em Goiás, foi beneficiado.
Nas gravações, Demóstenes também aparece acertando um suposto lobby pela
legalização dos jogos de azar no Congresso em 2009. Em outra conversa, Cachoeira
pede ajuda no processo de um delegado e três policiais de Anápolis (GO) acusados
de tortura e extorsão. Os dois ainda conversaram sobre um "negócio" milionário
na Infraero. Na ocasião, Demóstenes teria se valido da relatoria da CPI do
Apagão Aéreo para levantar informações e sondar contratos de informática na
estatal.
O presidente do DEM, senador José Agripino Maia (RN), anunciou em 2 de abril
que o partido decidiu abrir um processo que poderia resultar na expulsão de
Demóstenes, que, no dia seguinte, pediu a desfiliação da legenda.
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